Sobre Clara dos Anjos (1948), de Lima Barreto, é INCORRETO afirmar:
Cassi Jones é rapaz de família pertencente à elite carioca urbana, não possui uma profissão definida, gasta grande parte de seu tempo em uma vida boêmia, e tem por hábito seduzir moças inocentes e pobres para depois abandoná-las à sorte, como acontece com Clara.
A obra de Lima Barreto demonstra uma preocupação forte em refletir sobre o processo de urbanização implementado no início do século XX no Rio de Janeiro; e o romance Clara dos Anjos pode ser tomado como um bom exemplo dessa preocupação, já que a narrativa se concentra nos subúrbios cariocas e nos dilemas de seus habitantes, em especial na integração do pobre e/ou negro à sociedade brasileira.
No desenvolvimento da trama, é possível perceber uma atenção especial, ainda que não exclusiva, sobre os hábitos musicais das personagens (modinhas, polcas etc.) e a relação do homem pobre com a cultura letrada.
Clara dos Anjos, romance publicado postumamente, pode ser compreendido como a narrativa do destino quase que coletivo das moças negras na sociedade brasileira, como sugere, aliás, a epígrafe escolhida pelo autor a partir de um texto do historiador João Ribeiro.
O narrador do romance é onisciente intruso, isto é, não só tem um conhecimento amplo sobre as personagens e os eventos, como apresenta o sentimento dessas mesmas personagens e tece comentários, por vezes avaliativos, sobre costumes e atitudes dos envolvidos na trama.