Sobre Auto da barca do inferno, de Gil Vicente, é correto afirmar que:
A figura dramática do Parvo serve para tornar mais clara a baixeza das outras personagens que aparecem no cais, já que ele, o único provido de juízo, é capaz de reconhecer que o que elas fizeram em vida não lhes dá direito de embarcar para a Glória.
A peça procura endossar algumas crenças bastante comuns na época, apontando, por exemplo, que ouvir missas ou pedir para que estas fossem rezadas garantiam, às vezes, a salvação daqueles que se esquecessem de viver de acordo com os preceitos cristãos.
Ao representar tipos humanos considerados baixos, a peça parece querer alertar para a necessidade urgente de se corrigirem os costumes de acordo com a tradição cristã. Para tanto, nada melhor do que representar os vícios em sua forma mais vil, através da ridicularização das personagens que o cometeram.
A disputa que se dá entre as personagens e os representantes das barcas revela a necessidade de se conhecer a compaixão, e esta se torna urgente para os espectadores que ainda têm a possibilidade de entrar na barca do Anjo, se tiverem uma vida correta, sem pecados.
Através do riso, propiciado pela falta de decoro e pela ridicularização da cegueira dos personagens, que admitem que seus atos sejam considerados dignos de censura, o espectador é levado a reconhecer quais ações impedirão que seja aceito na barca do Anjo.
O Auto da barca do inferno de Gil Vicente é uma obra alegórica que retrata a sociedade portuguesa do século XVI. A peça é construída por meio de diálogos entre as personagens que esperam para ser julgadas e os diabos e anjos que controlam as barcas. A correta interpretação da obra passa pelo entendimento de que Vicente utiliza tipos humanos e a sátira para criticar os vícios e a corrupção moral da época.
A opção 'C' é a correta porque reflete bem a intenção do autor de usar a sátira para criticar os costumes da sociedade e incitar uma reflexão sobre a moralidade e a necessidade de correção dos comportamentos segundo a tradição cristã.
Um erro comum é interpretar a obra apenas pelo seu valor religioso sem considerar a crítica social implícita. Outro erro é não perceber a função crítica do humor e da sátira na obra, levando ao equívoco na escolha da alternativa correta.
Entender o Auto da barca do inferno requer conhecimento sobre literatura alegórica, sátira e contexto histórico do século XVI em Portugal. A peça pertence ao gênero dramático e faz uso de personagens-tipo para representar diversos estratos sociais e profissionais da época.