Sobre a poesia de Carlos Drummond de Andrade, autor de Sentimento do mundo, é correto afirmar que:
A sua poesia verdadeira, a que lhe deu glória e popularidade porque constituía, realmente, a expressão de sua alma, o grito das suas artérias, a voz do seu temperamento, era aquela que alguém chamou, uma vez, o seu “erotismo dourado”. Drummond sem beijos, sem a ronda voluptuosa dos corpos sensuais e fugitivos, das bocas súplices e dos braços estendidos como tentáculos do pecado, não seria Drummond.
Na poesia de Drummond, as palavras atuam no sentido de iluminar ou isolar para os olhos um sinal da esparsa beleza geral. Fruto da circunstância, o poema é por vezes pequena joia faiscante e secreta extraída do instante consumido. Em cada poema um convite à perene virgindade do primeiro olhar, um retorno às fontes de energia de quem observa as coisas como se as visse pela primeira vez.
O caráter pessimista da poesia de Drummond quanto ao pretenso poder da ciência contra o mistério do universo, essa falta de crença na eficácia de todo o esforço humano, é uma das suas características que mais o aproximam de nós, exilados há muito do ingênuo ufanismo cientificista do século passado. Drummond é o poeta do fracasso do enfrentamento do mistério, da impotência perante o incognoscível.
Nos poemas, os grandes acontecimentos públicos do século são expressos através de uma atormentada, galhofeira ou benévola autoanálise. A esta se acopla uma reflexão poética sobre a vivência do cidadão brasileiro, e o intelectual cosmopolita em tempos que podem ser trágicos, dramáticos, nostálgicos, pessimistas ou alegres. Experiência privada e fatos públicos nacionais e estrangeiros, em correlação e sistema de troca entranháveis, compõem a textura das sucessivas coletâneas de poemas.
O poeta dá geralmente à imaginação as prerrogativas de um poder absoluto e, portanto, quem deseja compreendê-lo e, em consequência, assimilar as suas criações, terá que reconhecer, previamente, esse primado. A imaginação criadora de Drummond corresponde ao que a crítica qualifica de plástica, imaginação exterior, na qual costumam prevalecer as associações de caráter objetivo, tornando-se por isso mesmo mais atenta às coisas do espaço visível.