“Sobre a cama estava um exemplar de Última Hora, o único jornal importante que defendia o presidente. Na primeira página, uma caricatura de Carlos Lacerda. O artista, acentuando os óculos de aros escuros e o nariz aquilino do jornalista, desenhara um corvo sinistro trepado num poleiro. O Anjo Negro levantou o braço e cravou com força o punhal no desenho. A lâmina varou o jornal e os lençóis, perfurou o colchão, emitindo um som arrepiante ao raspar em uma das molas de aço.”
Sobre o texto, extraído do livro Agosto, de Rubem Fonseca, e os fatos da época, é correto afirmar:
“Anjo Negro” é a alcunha de Gregório Fortunato – chefe da guarda pessoal de Getúlio Vargas.
A reconstituição dos fatos relacionados ao atentado a Lacerda feita pelo autor do romance comprova que os mandantes desse crime foram cinco: o general e ex-prefeito do Rio de Janeiro Angelo Mendes de Moraes, o empresário Euvaldo Lodi, o ex-ministro do Trabalho Danton Coelho, Beijo Vargas (irmão de Getúlio) e o deputado Lutero Vargas (filho de Getúlio).
De acordo com as investigações feitas pelo comissário Alberto Matos, protagonista do romance de Rubem Fonseca, o Anjo Negro planejou o assassinato do presidente Getúlio Vargas.
A descrição da caricatura de Carlos Lacerda evidencia que o jornal Última Hora, no qual o jornalista trabalhava, não era alinhado com Vargas.