INSPER Manhã 2014/1

Sempre desconfiei

 

Sempre desconfiei de narrativas de sonhos. Se já nos é difícil recordar o que vimos despertos e de olhos bem abertos, imagine-se o que não será das coisas que vimos dormindo e de olhos fechados... Com esse pouco que nos resta, fazemos reconstituições suspeitamente lógicas e pomos enredo, sem querer, nas ocasionais variações de um calidoscópio. Me lembro de que, quando menino, minha gente acusava-me de inventar os sonhos. O que me deixava indignado.

Hoje creio que ambas as partes tínhamos razão.

Por outro lado, o que mais espantoso há nos sonhos é que não nos espantamos de nada. Sonhas, por exemplo, que estás a conversar com o tio Juca. De repente, te lembras de que ele já morreu. E daí? A conversa continua.

Com toda a naturalidade.

Já imaginaste que bom se pudesses manter essa imperturbável serenidade na vida propriamente dita?

(Mario Quintana, A vaca e o hipogrifo. São Paulo: Globo,1995)

Em “Hoje creio que ambas as partes tínhamos razão”, o autor recorre a uma figura de construção, que está corretamente explicada em

a

silepse, por haver uma concordância verbal ideológica.

b

elipse, por haver a omissão do objeto direto.

c

anacoluto, por haver uma ruptura na estrutura sintática da frase.

d

pleonasmo, por haver uma redundância proposital em “ambas as partes”.

e

hipérbato, por haver uma inversão da ordem natural e direta dos termos da oração.

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Resposta
A

Resolução

A questão pede para identificar a figura de construção presente na frase "Hoje creio que ambas as partes tínhamos razão", retirada de um texto de Mario Quintana.

Vamos analisar a frase:

  1. Identificação do sujeito e do verbo: Na oração subordinada "que ambas as partes tínhamos razão", o sujeito é "ambas as partes". Gramaticalmente, "ambas as partes" é um sujeito de terceira pessoa (elas).
  2. Análise da concordância verbal: O verbo "tínhamos" está conjugado na primeira pessoa do plural (nós).
  3. Confronto entre gramática e sentido: Há uma discordância entre a forma verbal (1ª pessoa do plural - nós) e o sujeito gramatical (3ª pessoa - elas).
  4. Interpretação do sentido: O narrador, ao dizer "Hoje creio", se inclui como uma das "partes" mencionadas. Ou seja, "ambas as partes" se refere a "eu (narrador) + a outra parte (minha gente)". Por isso, ele usa o verbo na primeira pessoa do plural ("nós tínhamos"), concordando com a ideia (o sentido) e não com a forma gramatical do sujeito.
  5. Identificação da figura de linguagem: Essa concordância que prioriza a ideia, o sentido, em detrimento da regra gramatical estrita, é chamada de silepse. Como a concordância ideológica ocorre em relação à pessoa do discurso (o narrador se inclui no sujeito), trata-se especificamente de uma silepse de pessoa.

Portanto, a figura de construção presente é a silepse, caracterizada pela concordância verbal ideológica (com a ideia de "nós") e não gramatical (com "ambas as partes" - elas).

Dicas

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Preste atenção à relação entre o sujeito "ambas as partes" e o verbo "tínhamos".
Pense em quem são as "partes" mencionadas, considerando que o narrador diz "creio".
Lembre-se que a concordância verbal nem sempre segue a regra gramatical estrita, podendo alinhar-se com o sentido (concordância ideológica).

Erros Comuns

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Confundir silepse com erro de concordância comum.
Não perceber que o narrador se inclui no sujeito "ambas as partes", levando ao uso da 1ª pessoa do plural.
Focar em outros aspectos da frase (como a expressão "ambas as partes") e associá-los incorretamente a outras figuras (pleonasmo).
Ter um conhecimento superficial das definições das figuras de construção listadas.
Não diferenciar silepse de pessoa, número e gênero (embora aqui baste identificar como silepse).
Revisão

Figuras de Construção (ou de Sintaxe)

São recursos estilísticos que alteram a estrutura gramatical padrão da frase para conferir maior expressividade à comunicação. As principais mencionadas nas alternativas são:

  • Silepse: Concordância que se faz com a ideia ou o sentido que se quer transmitir, e não com o termo expresso na frase. Pode ser:
    • De pessoa: A concordância se faz com a pessoa implícita no contexto, não com o sujeito gramatical (Ex: "Os brasileiros somos otimistas" - o falante se inclui).
    • De número: A concordância se faz com a ideia de singular ou plural, não com a forma gramatical (Ex: "O pessoal chegou cedo, mas logo foram embora" - pessoal [singular] equivale a muitas pessoas [plural]).
    • De gênero: A concordância se faz com o gênero implícito, não com o gênero gramatical da palavra (Ex: "Vossa Excelência está convidado" - se V. Exa. for homem).
  • Elipse: Omissão de um termo que pode ser facilmente subentendido pelo contexto (Ex: "Na sala, apenas quatro ou cinco convidados." - omissão do verbo 'haver' ou 'estar').
  • Anacoluto: Ruptura ou desvio na estrutura sintática da frase, deixando um termo inicial sem função sintática clara (Ex: "Eu, parece que estou ficando velho.").
  • Pleonasmo: Repetição de uma ideia ou termo com o objetivo de reforçar a mensagem (pode ser vicioso ou estilístico) (Ex: "Vi com meus próprios olhos.").
  • Hipérbato: Inversão da ordem direta dos termos na oração (sujeito - verbo - complemento) ou da ordem das orações no período (Ex: "Ouviram do Ipiranga as margens plácidas / De um povo heroico o brado retumbante" - ordem direta: As margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado retumbante de um povo heroico).
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