Satélite
Fim de tarde.
No céu plúmbeo
A Lua baça
Paira
Muito cosmograficamente
Satélite.
Desmetaforizada,
Desmitificada,
Despojada do velho segredo de melancolia,
Não é agora o golfão de cismas,
O astro dos loucos e dos enamorados,
Mas tão somente
Satélite.
Ah Lua deste fim de tarde,
Demissionária de atribuições românticas,
Sem show para as disponibilidades sentimentais!
Fatigado de mais-valia,
gosto de ti, assim:
Coisa em si,
– Satélite.
Manuel Bandeira
Um aspecto em que se manifesta a filiação desse poema de Bandeira à mentalidade propriamente moderna é
o fato de realizar uma reflexão de caráter cosmológico.
o emprego sistemático de antíteses e paradoxos.
o uso imoderado e extensivo de citações de épocas longínquas.
o reconhecimento do desencantamento do mundo.
a liquidação da instância do sujeito individual ou reflexivo.