Procuradoria Geral do Estado 2022
Atenção: Leia o trecho do romance Quincas Borba, de Machado de Assis, para responder às questões de números 9 a 16.
1. \(\quad\quad\) Este Quincas Borba, se acaso me fizeste o favor de ler as Memórias Póstumas de Brás Cubas, é aquele mesmo náufrago da existência, que ali aparece, mendigo, herdeiro inopinado, e inventor de uma filosofia. Aqui o tens agora em Barbacena. Logo que chegou, enamorou-se de uma viúva, senhora de condição mediana e parcos meios de vida; mas, tão acanhada, que os suspiros do namorado ficavam sem eco. Chamava-se Maria da Piedade. Um irmão dela, que é o presente Rubião, fez todo o possível para casá-los. Piedade resistiu, um pleuris a levou.
2. \(\quad\quad\) Foi esse trechozinho de romance que ligou os dois homens. Saberia Rubião que o nosso Quincas Borba trazia aquele grãozinho de sandice, que um médico supôs achar-lhe? Seguramente, não; tinha-o por homem esquisito. É, todavia, certo que o grãozinho não se despegou do cérebro de Quincas Borba, − nem antes, nem depois da moléstia que lentamente o comeu. Quincas Borba tivera ali alguns parentes, mortos já agora em 1867; o último foi o tio que o deixou por herdeiro de seus bens. Rubião ficou sendo o único amigo do filósofo. Regia então uma escola de meninos, que fechou para tratar do enfermo. Antes de professor, metera ombros a algumas empresas, que foram a pique.
3. \(\quad\quad\) Durou o cargo de enfermeiro mais de cinco meses, perto de seis. Era real o desvelo de Rubião, paciente, risonho, múltiplo, ouvindo as ordens do médico, dando os remédios às horas marcadas, saindo a passeio com o doente, sem esquecer nada, nem o serviço da casa, nem a leitura dos jornais, logo que chegava a mala da Corte ou a de Ouro Preto.
4. \(\quad\quad\) − Tu és bom, Rubião, suspirava Quincas Borba.
5. \(\quad\quad\) − Grande façanha! Como se você fosse mau!
6. \(\quad\quad\) A opinião ostensiva do médico era que a doença do Quincas Borba iria saindo devagar. Um dia, o nosso Rubião, acompanhando o médico até à porta da rua, perguntou-lhe qual era o verdadeiro estado do amigo. Ouviu que estava perdido, completamente perdido; mas, que o fosse animando. Para que tornar-lhe a morte mais aflitiva pela certeza...?
7. \(\quad\quad\) − Lá isso, não, atalhou Rubião; para ele, morrer é negócio fácil. Nunca leu um livro que ele escreveu, há anos, não sei que negócio de filosofia...
8. \(\quad\quad\) − Não; mas filosofia é uma coisa, e morrer de verdade é outra; adeus.
(Adaptado de: ASSIS, Machado de. Quincas Borba. São Paulo: Companhia das Letras, 2012)
Saberia Rubião que o nosso Quincas Borba trazia aquele grãozinho de sandice, que um médico supôs achar-lhe? (2o parágrafo).
Os pronomes sublinhados referem-se, respectivamente, a
grãozinho de sandice e Quincas Borba.
um médico e grãozinho de sandice.
Quincas Borba e Rubião.
Quincas Borba e grãozinho de sandice.
grãozinho de sandice e Rubião.
Resolução
O questionamento se refere ao entendimento de Rubião a respeito da possível loucura de Quincas Borba, indicada pela expressão 'grãozinho de sandice'. Os pronomes 'que' e 'lhe' funcionam como elementos de retomada no texto, portanto, é necessário identificar a quais termos eles se referem. O pronome 'que' refere-se ao 'grãozinho de sandice', e o pronome 'lhe' refere-se ao possuidor desse grão de sandice, que é Quincas Borba.
Dicas
Identifique a função sintática do pronome relativo 'que' na frase.
Observe a quem o médico poderia ter encontrado o 'grãozinho de sandice', o possível louco, para identificar a quem o pronome 'lhe' se refere.
Releia o trecho e note a relação de posse indicada pelo pronome 'lhe'.
Erros Comuns
Um erro comum seria não reconhecer a relação de posse indicada pelo pronome 'lhe' e atribuí-lo incorretamente a outro personagem ou objeto que não tem essa relação com o 'grãozinho de sandice'.
Os pronomes são palavras que substituem ou acompanham substantivos, indicando sua posição em relação às pessoas do discurso ou situando-os no espaço e no tempo. Neste caso, o pronome relativo 'que' refere-se a um elemento anteriormente mencionado na frase, e o pronome oblíquo 'átono' 'lhe' indica posse ou pertencimento.
