UERJ 2017/2

Resisti a entrar para o Facebook e, mesmo quando já fazia parte de sua rede, minha opinião  

sobre ela não era das melhores: fragmentação da percepção, e portanto da capacidade  

cognitiva; intensificação do narcisismo exibicionista da cultura contemporânea; império do  

senso comum; indistinção entre o público e o privado. Não sei se fui eu quem mudou, se foram  

[5] meus “amigos” ou se foi a própria rede, mas, hoje, sem que os traços acima tenham deixado  

de existir, nenhum deles, nem mesmo todos eles em conjunto me parecem decisivos, ao menos  

na minha experiência: agora compreendo e utilizo a rede social como a televisão do século XXI,  

com diferenças e vantagens sobre a TV tradicional.  

A internet, as tecnologias wiki de interação e as redes sociais têm uma dimensão, para usar  

[10] a expressão do escritor Andrew Keen, de “culto do amador”, mas tal dimensão convive com  

o seu oposto, que é essa crítica da mídia tradicional pela nova mídia, cujos agentes muitas  

vezes nada têm de amadores. Assim, a metatelevisão do Facebook opera tanto selecionando  

conteúdo da TV tradicional como submetendo-o à crítica. E faz circular ainda informações que  

a TV, por motivos diversos, suprime. Alguns acontecimentos recentes, no Brasil e no mundo,  

[15] tiveram coberturas nas redes sociais melhores que nos canais tradicionais. A divergência é uma  

virtude democrática, e as redes sociais têm contribuído para isso (e para derrubar ditaduras  

onde não há democracia).  

A publicização da intimidade, sem nenhuma transfiguração que lhe confira o estatuto de interesse  

público, é muito presente na rede. Deve-se lembrar, entretanto, que redes sociais não são  

[20] exatamente um espaço público, mas um espaço privado ampliado ou uma espécie nova e híbrida  

de espaço público-privado. Seja como for, aqui também é o usuário que decide sobre o registro  

em que prevalecerá sua experiência. E não se deve exagerar no tom crítico a essa dimensão; o  

registro imaginário, narcisista, de promoção do eu é humano, demasiadamente humano, e até  

certo ponto necessário. Deve-se apenas relativizá-lo; ora, essa relativização vigora igualmente  

[25] nas redes sociais. Além disso, a publicização da intimidade não significa necessariamente  

autopromoção do eu. Ela pode ativar uma dimensão importante da comunicação humana.  

Roland Barthes, escritor francês, costumava dizer que a linguagem sempre diz o que diz e ainda  

diz o que não diz. Por exemplo, ao citar o nome de Barthes, estou, além de dizer o que ele  

disse, dizendo que eu o li, que sou um leitor culto. Esse tema do que passa por meio de,  

[30] indiretamente, era importante para Barthes. Ele adorava o caso da brincadeira de passar o anel,  

onde o que está em jogo é tanto o roçar das mãos quanto o destino do objeto. Pois bem, fui  

percebendo que a escrita nas redes sociais é uma forma de roçar as mãos, tanto quanto de  

saber, afinal, onde foi parar o anel. O indireto dessa escrita, o que por meio dela se diz, é uma  

pura abertura ao outro. 

FRANCISCO BOSCO Adaptado de Alta ajuda. Rio de Janeiro: Foz, 2012.

Esse tema do que passa por meio de, indiretamente, era importante para Barthes. (l. 29-30) Com base na compreensão do último parágrafo, a expressão que pode substituir o trecho sublinhado é:

a

das sugestões implícitas 

b

das negações assumidas 

c

das metáforas cristalizadas

d

dos eufemismos recorrentes

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A
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