Quincas Borba mal podia encobrir a satisfação do triunfo. Tinha uma asa de frango no prato, e trincava–a com filosófica serenidade. Eu fiz–lhe ainda algumas objeções, mas tão frouxas, que ele não gastou muito tempo em destruí–las.
— Para entender bem o meu sistema, concluiu ele, importa não esquecer nunca o princípio universal, repartido e resumido em cada homem. Olha: a guerra, que parece uma calamidade, é uma operação conveniente, como se disséssemos o estalar dos dedos de Humanitas; a fome ( e ele chupava filosoficamente a asa do frango), a fome é uma prova a que Humanitas submete a própria víscera. Mas eu não quero outro documento da sublimidade do meu sistema, senão este mesmo frango. Nutriu–se de milho, que foi plantado por um africano, suponhamos, importado de Angola. Nasceu esse africano, cresceu, foi vendido; um navio o trouxe, um navio construído de madeira cortada no mato por dez ou doze homens, levado por velas, que oito ou dez homens teceram, sem contar a cordoalha e outras partes do aparelho náutico. Assim, este frango, que eu almocei agora mesmo, é o resultado de uma multidão de esforços e lutas, executadas com o único fim de dar mate ao meu apetite.
ASSIS, M. Memórias póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Civilização Brasiliense, 1975.
A filosofia de Quincas Borba - A Humanitas - contém princípios que, conforme a explanação do personagem, consideram a cooperação entre as pessoas uma forma de
lutar pelo bem da coletividade.
atender a interesses pessoais.
erradicar a desigualdade social.
minimizar as diferenças individuais.
estabelecer vínculos sociais profundos.
Análise Detalhada da Questão
A questão pede para identificar como a filosofia "Humanitas", de Quincas Borba, considera a cooperação entre as pessoas, com base no trecho apresentado.
1. Leitura Atenta do Texto: O texto mostra Quincas Borba explicando sua filosofia. Ele usa exemplos como a guerra e a fome, que considera "operações convenientes" ou "provas" de Humanitas. O exemplo central é o frango que ele está comendo.
2. Análise do Exemplo do Frango: Quincas Borba detalha a cadeia de eventos e esforços humanos que culminaram no frango em seu prato: o milho plantado por um africano escravizado, o transporte em um navio construído e operado por muitos trabalhadores. Ele descreve uma vasta rede de "cooperação" (embora involuntária e exploratória em parte, como no caso do africano).
3. Identificação da Conclusão de Quincas Borba: A parte crucial é a conclusão que ele tira desse exemplo: "Assim, este frango, que eu almocei agora mesmo, é o resultado de uma multidão de esforços e lutas, executadas com o único fim de dar mate ao meu apetite."
4. Interpretação da Filosofia: A conclusão de Quincas Borba revela o cerne de sua filosofia aplicada à cooperação. Para ele, toda essa complexa rede de trabalho, lutas e esforços humanos que ele descreve como "cooperação" (no sentido amplo de ações conjuntas que levam a um resultado) tem como propósito final a satisfação de um interesse individual – no caso, o seu próprio apetite.
5. Avaliação das Alternativas:
Conclusão
A filosofia Humanitas, na visão de Quincas Borba expressa no trecho, interpreta a cooperação humana não como um esforço altruísta pelo bem comum, mas como um mecanismo complexo que, em última instância, serve para satisfazer os interesses e necessidades pessoais de alguém (neste caso, ele mesmo).
Revisão de Conceitos