UERJ 2018/2

Quem tem o direito de falar?

A política não é uma questão apenas de circulação de bens e riquezas. Na verdade, a política é

também uma questão de circulação de afetos, da maneira como eles irão criar vínculos sociais,

afetando os que fazem parte desses vínculos.

A maneira como somos afetados define o que somos e o que não somos capazes de ver, sentir e

{5}perceber. Definido o que vejo, sinto e percebo, definem-se o campo das minhas ações, a maneira

como julgarei, o que faz parte e o que está excluído do meu mundo.

Percebam, por exemplo, como um dos maiores feitos políticos de 2015 foi a circulação de uma

mera foto, a foto do menino sírio morto em um naufrágio no Mar Mediterrâneo. Nesse sentido, foi

muito interessante pesquisar as reações de certos europeus que invadiram sites de notícias de seu

{10}continente com posts e comentários. Uma quantidade impressionante deles reclamava daqueles

jornais que decidiram publicar a foto. Eles diziam basicamente a mesma coisa: “parem de nos

mostrar o que não queremos ver”.

Toda verdadeira luta política é baseada em uma mudança nos circuitos dominantes de afetos.

Prova disso foi o fato de tal foto produzir o que vários discursos até então não haviam conseguido:

{15}a suspensão temporária da política criminosa de indiferença em relação à sorte dos refugiados.

De fato, sabemos que faz parte das dinâmicas do poder decidir qual sofrimento é visível e qual é

invisível. Mas, para tanto, devemos antes decidir sobre quem fala e quem não fala.

Há várias maneiras de silêncio. A mais comum é simplesmente calar quem não tem direito à voz.

Isso é o que nos lembram todos aqueles que se engajaram na luta por grupos sociais vulneráveis

{20}e objetos de violência contínua (negros, homossexuais, mulheres, travestis, palestinos, entre

tantos outros).

Mas há ainda outra forma de silêncio. Ela consiste em limitar a fala. A princípio, isso pode parecer

um ato de dar voz aos excluídos e subalternos, fazendo com que negros falem sobre os problemas

dos negros, mulheres falem sobre os problemas das mulheres, e por aí vai. No entanto, essa

{25}é apenas uma forma astuta de silêncio, e deveríamos estar mais atentos a tal estratégia de

silenciamento identitário. Ao final, ela quer nos levar a acreditar que negros devem apenas falar

dos problemas dos negros, que mulheres devem apenas falar dos problemas das mulheres.

Posso dar visibilidade a sofrimentos que antes não circulavam, mas, quando aceito limitar minha

fala pela identidade que supostamente represento, não mudarei a forma de circulação de afetos,

{30}pois não conseguirei implicar quem não partilha minha identidade na narrativa do meu sofrimento.

Ser um sujeito político é conseguir enunciar proposições que podem implicar qualquer um, ou seja,

que se dirigem a essa dimensão do “qualquer um” que faz parte de cada um de nós. É quando nos

colocamos na posição de qualquer um que temos mais força de desestabilização. O verdadeiro

medo do poder é que você se coloque na posição de qualquer um.

VLADIMIR SAFATLE Adaptado de Folha de S. Paulo, 25/09/2015.

essa dimensão do “qualquer um” que faz parte de cada um de nós. (ℓ. 32)

No parágrafo final, o uso da expressão indefinida destaca a seguinte tese presente na argumentação do autor:

a

crítica à polêmica entre concepções políticas

b

recusa às interpretações dos veículos de mídia

c

defesa da importância dos movimentos migratórios

d

questionamento das fronteiras entre segmentos da população

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