Universidade Federal do Rio de Janeiro 2022

LÍNGUA PORTUGUESA


TEXTO 1



Foto: Márcia Foletto/Agência O Globo


___Cientistas da UFRJ descobriram como a sepse, a inflamação generalizada quase sempre deflagrada por uma infecção fora de controle, aumenta o risco de uma pessoa desenvolver o mal de Alzheimer. A descoberta é particularmente importante porque a sepse, já muito comum, se tornou ainda mais frequente com a pandemia de Covid-19, constituindo um panorama além do sofrível.

___Se sabia que a sepse estava relacionada ao risco de demências, mas o estudo é o primeiro a explicar por que e como isso ocorre. Ele abre caminho para a prevenção do mal de Alzheimer, doença que permanece incurável e para a qual não existe remédio eficaz. Mas indica também que, devido à explosão de casos de sepse com a pandemia, há um enorme risco de aumento de casos de demência. Devido à relevância dos achados, o estudo foi publicado na revista Brain, Behavior and Immunity.

___“Infelizmente, a sepse se tornou corriqueira na pandemia, pois acomete a grande maioria dos pacientes graves de Covid-19. Mas nosso estudo abre caminho para estratégias capazes de evitar ou reduzir o risco de mal de Alzheimer e outras doenças neurodegenerativas”, explica uma das coordenadoras do estudo, Cláudia Pinto Figueiredo, do Núcleo de Neurociências da Faculdade de Farmácia da UFRJ.

___A sepse pode causar falência múltipla de órgãos e choque séptico, quando a pressão arterial cai abruptamente. É frequente em pacientes hospitalizados. É uma assassina em massa. Seu encontro com o coronavírus provocou um aumento estratosférico de mortes por Covid-19, alertam os cientistas.

___O novo estudo mostrou que a sepse deixa uma espécie de “carimbo”, uma marca de risco aumentado de Alzheimer, mesmo em indivíduos que se recuperam da inflamação sem sequelas aparentes. Antes da pandemia, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a sepse causava por ano 20% das mortes no mundo, ou 11 milhões de óbitos e 48,9 milhões de casos. Quase sempre é a causa de morte por infecções. Com a Covid-19, especialistas estimam que esse número tenha disparado, pois a infecção pelo Sars-CoV-2 tem feito os casos de sepse explodirem entre pacientes que precisam de internação, em especial, os intubados em UTIs. Figueiredo frisa que a associação entre doença inflamatória grave, como sepse e Covid-19, e doenças neurodegenerativas, mostra que é necessário acompanhamento neuropsicológico desses pacientes após a alta hospitalar. “Temos uma grave questão, que precisa ser contemplada com políticas públicas de saúde”, destaca a cientista.

___A sepse é uma “filha de tempestade”. É gerada por uma tempestade de citocina — substância produzida pelo sistema de defesa para debelar infecções. Em alguns casos, porém, o sistema imunológico perde o controle e o corpo acaba vítima de fogo amigo, as citocinas. Na sepse, é como se o organismo entrasse em combustão, fica todo inflamado devido à tempestade. Bombardeados, os órgãos começam a apagar. As bactérias ou vírus causadores da infecção original podem já não estar presentes. Mas o corpo continua a sofrer a inflamação. Se esta não for contida, a pessoa morre.

___O grupo da UFRJ descobriu ainda que, mesmo nos curados, a tempestade não cessa sem deixar estragos. No cérebro, a sepse danifica a chamada memória imunológica. O cérebro é particularmente bem protegido pelo sistema imune. Mas se for afetado pela inflamação, as células de defesa ficam “irritadiças” e passam a reagir a qualquer coisa de forma exagerada e desproporcional. Pequenos danos que para a maioria das pessoas não teriam relevância, nos sobreviventes de sepse são verdadeiros insultos. E esses insultos custam caro. Podem levar à perda de memória e ao desenvolvimento do mal de Alzheimer, explica Figueiredo.

___Num estudo com camundongos, os cientistas puderam ver o que acontece em função de pequenos acúmulos de beta-amiloide, a proteína cujas placas são características no mal de Alzheimer. Em animais sem sepse, esses “pequenos insultos” não têm impacto algum. Porém, nos animais sobreviventes de sepse, há uma resposta desequilibrada. As células de defesa que deveriam proteger os neurônios começam a atacá-los. Destroem as sinapses (comunicação de sinais nervosos). Enlouquecidas, as antigas defensoras se tornam devoradoras de memórias.

___Julia Clarke, uma das coordenadoras do estudo, destaca que o trabalho mostra a importância da ciência brasileira na resolução de questões de saúde mundial. “Se não estivéssemos passando pela maior crise de financiamento da ciência e tecnologia de nossa história, o Brasil poderia ter papel pioneiro no estudo da Covid-19”, salienta Clarke.


AZEVEDO, Ana Lúcia. “Estudo da UFRJ mostra que sepse, inflamação generalizada, aumenta risco de mal de Alzheimer”.

In: O Globo/Sociedade, 25 mai. 2021. Disponível em < https://glo.bo/3bXmuxy>. Acesso em 9 de jun, com adaptações.



TEXTO 2


___A sociedade moderna está alicerçada em uma estrutura de profissões, evocando o profissionalismo para a execução da maioria de nossos atos. Conceitos como saúde, doença, (in)sanidade ou até mesmo o que é ordem ou desordem, são definidos no construto teórico das corporações profissionais. É na saúde que podemos aferir esse grau de profissionalismo com extremado rigor.

___Um profissional é um indivíduo que tem controle e domínio sobre um campo do saber em nome da primazia da racionalidade cognitiva e orientado para a aplicação desse conhecimento na solução de problemas da realidade dada. O saber tem lugar privilegiado e define condutas técnicas e áreas de aplicabilidade da base cognitiva. Esse conhecimento especializado permite a ele exercer a autoridade sobre o paciente e a população. Suas recomendações são levadas a sério não só pelo paciente, como pela população e especialmente pelas autoridades governamentais que prezam pela integridade e o bem estar dos indivíduos. Em tempos de pandemia, por exemplo, a ciência e os achados científicos no campo da saúde passam a ter enorme relevância na tomada de decisão das autoridades sanitárias do país.

___Por sua essencialidade nos serviços prestados, esses profissionais têm inserção assegurada no mercado de trabalho de saúde em postos de trabalho, seja no setor público ou no privado. Um mercado de trabalho complexo, altamente profissionalizado e de grande amplitude, pode ser atestado, por exemplo, com a presença de médicos e enfermeiros nos 5.570 municípios, nas 27 unidades da Federação e nas cinco regiões geográficas do país.

___O enfrentamento da crise sanitária provocada pela pandemia do novo Coronavírus em nosso país tem sido possível, exatamente, em razão do SUS contar, como mencionado, com esse enorme contingente de trabalhadores. A Enfermagem está presente em todas as etapas de nossas vidas e em todos os setores da saúde (desde a assistência ambulatorial ou hospitalar), na gestão pública do SUS (federal, municipal e estadual), na educação, na pesquisa, na Ciência e Tecnologia, no controle social etc., prestando serviços de alto valor social.

___O editorial da revista The Lancet aponta que à medida que a pandemia se acelera, o acesso a EPI para profissionais da saúde é uma preocupação importante. Apesar de muitos países priorizarem as equipes de saúde, a escassez de EPI, em unidades de saúde, tem sido apontada. Equipes realizam atendimento em pessoas que podem estar infectadas, enquanto aguardam o acesso a EPI, ou até mesmo os que estão disponíveis não atendem aos requisitos mínimos de segurança. É fato também o receio dos profissionais em contaminar seus familiares, aumentando, assim, o estresse no seu cotidiano.

___Na linha de frente, profissionais como enfermeiros, técnicos e auxiliares de Enfermagem, médicos, fisioterapeutas e todo o pessoal de apoio e suporte estão enfrentando o duríssimo cotidiano dos hospitais com volume crescente de pessoas buscando ajuda e socorro por conta da Covid-19. Se já estava difícil e penoso o cotidiano do trabalho desses profissionais, a situação tende a piorar e se agravar por conta do excesso de trabalho e do alto grau de estresse e medo de se contaminarem, gerando angustia e depressão.

___O risco de colapso do sistema é real – e ultrapassa a questão do número de leitos ou respiradores, tão aventados pela mídia nacional ultimamente – e precisa ser observado pelas autoridades sanitárias em todo o país. É necessário descortinar a realidade da Força de Trabalho em Saúde no Brasil de modo a compreender que, todo investimento em novas instalações físicas ou novas tecnologias será inútil, enquanto não houver, pelo menos, o mesmo empenho em melhorar as condições de trabalho e de vida das pessoas que compõem o Sistema de Saúde.

___Os índices elevados de óbitos e contaminação em todos os estados brasileiros tem a sua causa em múltiplos fatores, que necessitam ser investigados para buscar soluções e medidas de proteção que assegurem a integridade física e psíquica de todos os profissionais da saúde. Estudos e diagnósticos mais detalhados das condições de trabalho e, em consequência, dos efeitos que incidem no processo de trabalho durante a pandemia e no pós-pandemia são necessários e essenciais para o melhor entendimento da realidade posta e exposta.

___É imperioso o olhar especial para esses trabalhadores da saúde, em especial para a Enfermagem, protegendo-os e assegurando-lhes saúde, paz e segurança para que possam continuar cuidando de todos nós.


MACHADO, Maria Helena et al. “Enfermagem em tempos da Covid-19 no Brasil: um olhar da gestão do trabalho”. In: Enferm. Foco 2020; 11 (1) Especial. pag. 34-38. Disponível em http://revista.cofen.gov.br/index.php/enfermagem/article/ view/3994/800 (acesso em 28/05/2021 - com adaptações).

Quanto à tipologia, os TEXTOS 1 e 2 são:

a

dissertativos, pois apresentam informações sobre uma temática com isenção de ponto de vista.

b

narrativos, pois apontam o cotidiano de determinado grupo de pessoas e suas necessidades.

c

descritivos, pois simplesmente apresentam um cenário crítico no qual vive um grupo de pessoas.

d

dissertativos, pois seus autores abordam temas relevantes na área da Saúde.

e

injuntivo, pois leva o leitor a refletir e tomar consciência do papel da ciência e dos profissionais pertencentes à área da Saúde.

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D
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