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ENEM 2012 segunda aplicação
Quanto à deliberação, deliberam as pessoas sobre tudo? São todas as coisas objetos de possíveis deliberações? Ou será a deliberação impossível no que tange a algumas coisas? Ninguém delibera sobre coisas eternas e imutáveis, tais como a ordem do universo; tampouco sobre coisas mutáveis como os fenômenos dos solstícios e o nascer do sol, pois nenhuma delas pode ser produzida por nossa ação.
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Edipro, 2007 (adaptado).
O conceito de deliberação tratado por Aristóteles é importante para entender a dimensão da responsabilidade humana. A partir do texto, considera-se que é possível ao homem deliberar sobre
a
coisas imagináveis, já que ele não tem controle sobre os acontecimentos da natureza.
b
ações humanas, ciente da influência e da determinação dos astros sobre as mesmas.
c
fatos atingíveis pela ação humana, desde que estejam sob seu controle.
d
fatos e ações mutáveis da natureza, já que ele é parte dela.
e
coisas eternas, já que ele é por essência um ser religioso.
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Resposta
C
Tempo médio
1 min
Resolução
A questão pede para identificar, com base no texto de Aristóteles, sobre o que o ser humano pode deliberar. O texto da Ética a Nicômaco oferece uma definição por exclusão.
- Identificar o tema central: O texto discute o conceito de deliberação (βούλευσις - bouleusis), que é o processo de pensar sobre qual ação tomar.
- Analisar as exclusões de Aristóteles: Aristóteles afirma explicitamente que não deliberamos sobre:
- Coisas eternas e imutáveis (ex: a ordem do universo).
- Coisas mutáveis que não são produzidas por nossa ação (ex: fenômenos naturais como solstícios e o nascer do sol).
- Inferir o objeto da deliberação: Se não deliberamos sobre o eterno/imutável nem sobre o mutável que não controlamos, então, por contraste, deliberamos sobre aquilo que é mutável e pode ser produzido por nossa ação. Ou seja, deliberamos sobre coisas que estão ao nosso alcance, sobre as quais temos algum controle e que podemos realizar através de nossas escolhas e ações.
- Avaliar as alternativas:
- A: "Coisas imagináveis" é muito amplo. Deliberamos sobre ações possíveis, não sobre qualquer fantasia. A justificativa ("já que ele não tem controle sobre os acontecimentos da natureza") não conecta corretamente com o critério aristotélico, que foca no que *podemos* controlar.
- B: Embora deliberemos sobre ações humanas, a menção à "influência e da determinação dos astros" contradiz a ideia de que deliberamos sobre o que está sob nosso controle, pois Aristóteles exclui fenômenos naturais (ligados aos astros, como solstícios) justamente por não estarem sob nosso controle.
- C: "Fatos atingíveis pela ação humana, desde que estejam sob seu controle" descreve perfeitamente o domínio da deliberação segundo Aristóteles. São coisas contingentes (não eternas/necessárias) e que dependem de nossa ação.
- D: O texto exclui explicitamente a deliberação sobre "fatos e ações mutáveis da natureza" (solstícios, nascer do sol), mesmo sendo mutáveis, porque não podemos produzi-los.
- E: O texto nega explicitamente a deliberação sobre "coisas eternas".
- Conclusão: A alternativa C é a única que corresponde à definição de deliberação inferida do texto de Aristóteles, focando naquilo que é contingente, realizável pela ação humana e que está sob o controle do agente.
Dicas
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Identifique no texto os exemplos que Aristóteles dá de coisas sobre as quais NÃO deliberamos.
Qual característica comum essas coisas (ordem do universo, solstícios, nascer do sol) possuem, segundo Aristóteles?
Pense no oposto: se não deliberamos sobre essas coisas, sobre que tipo de coisas, então, deliberamos?
Erros Comuns
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Confundir o objeto da deliberação com qualquer coisa mutável, ignorando o critério de 'ser produzido por nossa ação' (erro que pode levar à alternativa D).
Achar que a deliberação se aplica a qualquer pensamento ou imaginação, sem o requisito de ser algo realizável pela ação (erro que pode levar à alternativa A).
Interpretar mal as exclusões de Aristóteles, pensando que ele nega a deliberação sobre ações humanas em geral (o que não é o caso) ou introduzindo elementos externos ao texto (como a influência dos astros na alternativa B).
Ignorar a negação explícita no texto sobre deliberar acerca de coisas eternas (erro que leva à alternativa E).
Revisão
Deliberação (βούλευσις - bouleusis) em Aristóteles:
- É um processo racional de investigação e ponderação sobre os meios para atingir um fim desejado.
- Não se delibera sobre os fins últimos (como a felicidade, que é desejada por si mesma), mas sobre como alcançá-los.
- Seu objeto são as coisas contingentes, ou seja, que podem ser ou não ser, e que estão ao nosso alcance ("produzida[s] por nossa ação").
- Exclui-se o que é necessário (eterno, imutável) e o que acontece por natureza ou acaso, fora do nosso controle.
- A deliberação precede a escolha (προαίρεσις - prohairesis), que é o desejo deliberado de coisas que estão ao nosso alcance.
- É fundamental para a ação voluntária e, consequentemente, para a responsabilidade moral.
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