Quando Deus redimiu da tirania
Da mão do Faraó endurecido
O Povo Hebreu amado, e esclarecido,
Páscoa ficou da redenção o dia.
Páscoa de flores, dia de alegria
Àquele Povo foi tão afligido
O dia, em que por Deus foi redimido;
Ergo sois vós, Senhor, Deus da Bahia.
Pois mandado pela alta Majestade
Nos remiu de tão triste cativeiro,
Nos livrou de tão vil calamidade.
Quem pode ser senão um verdadeiro
Deus, que veio estirpar desta cidade
O Faraó do povo brasileiro.
DAMASCENO, D. (Org.). Melhores poemas: Gregório de Matos. São Paulo: Globo, 2006.
Com uma elaboração de linguagem e uma visão de mundo que apresentam princípios barrocos, o soneto de Gregório de Matos apresenta temática expressa por
visão cética sobre as relações sociais.
preocupação com a identidade brasileira.
crítica velada à forma de governo vigente.
reflexão sobre os dogmas do cristianismo.
questionamento das práticas pagãs na Bahia.
Análise Detalhada do Soneto e Resolução
O enunciado pede para identificar a temática expressa no soneto de Gregório de Matos, considerando a linguagem e visão de mundo barrocas.
1. Leitura e Compreensão do Poema: O soneto estabelece uma comparação (analogia) entre um evento bíblico e uma situação contemporânea na Bahia.
2. Identificação da Analogia Central:
3. Interpretação da Temática: A analogia serve para criticar a situação de opressão ("cativeiro", "calamidade") vivida na Bahia, personificada na figura do "Faraó do povo brasileiro". Este "Faraó" representa a autoridade ou o sistema de governo anterior ou ainda vigente que o eu lírico considera tirânico. Ao mesmo tempo, o poema elogia (ou expressa esperança em) uma nova figura de autoridade ("Senhor, Deus da Bahia"), comparando-a a um redentor divino. A crítica ao "Faraó" (o poder opressor) é o cerne da mensagem. Como essa crítica é feita por meio de uma comparação bíblica, ela é indireta, ou seja, velada.
4. Conexão com o Barroco: O poema utiliza recursos barrocos como o uso de temática religiosa (embora aplicada a um contexto secular), o jogo de contrastes (opressão vs. libertação, Faraó vs. Redentor), a linguagem rebuscada e a estrutura conceptista (baseada na analogia complexa).
5. Conclusão: A temática principal é a crítica a uma forma de governo ou autoridade opressora (o "Faraó"), feita de maneira indireta (velada) através de uma analogia com a história bíblica da libertação dos hebreus. Isso corresponde diretamente à alternativa C.
Revisão de Conceitos
Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.