ENEM 2014

Quando Deus redimiu da tirania
Da mão do Faraó endurecido
O Povo Hebreu amado, e esclarecido,
Páscoa ficou da redenção o dia.

Páscoa de flores, dia de alegria
Àquele Povo foi tão afligido
O dia, em que por Deus foi redimido;
Ergo sois vós, Senhor, Deus da Bahia.

Pois mandado pela alta Majestade
Nos remiu de tão triste cativeiro,
Nos livrou de tão vil calamidade.

Quem pode ser senão um verdadeiro
Deus, que veio estirpar desta cidade
O Faraó do povo brasileiro.

DAMASCENO, D. (Org.). Melhores poemas: Gregório de Matos. São Paulo: Globo, 2006.


Com uma elaboração de linguagem e uma visão de mundo que apresentam princípios barrocos, o soneto de Gregório de Matos apresenta temática expressa por

a

visão cética sobre as relações sociais.

b

preocupação com a identidade brasileira.

c

crítica velada à forma de governo vigente.

d

reflexão sobre os dogmas do cristianismo.

e

questionamento das práticas pagãs na Bahia.

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Resposta
C
Tempo médio
1 min

Resolução

Análise Detalhada do Soneto e Resolução

O enunciado pede para identificar a temática expressa no soneto de Gregório de Matos, considerando a linguagem e visão de mundo barrocas.

1. Leitura e Compreensão do Poema: O soneto estabelece uma comparação (analogia) entre um evento bíblico e uma situação contemporânea na Bahia.

  • Primeiro Quarteto: Lembra a Páscoa judaica, a libertação do povo hebreu da tirania do Faraó no Egito, por obra de Deus.
  • Segundo Quarteto: Afirma que a Páscoa foi um dia de alegria para o povo afligido. Em seguida, faz uma ligação direta com a Bahia: "Ergo sois vós, Senhor, Deus da Bahia." ("Ergo" significa "Portanto"). O eu lírico compara uma figura importante na Bahia ("Senhor") a Deus, no sentido de ser um redentor.
  • Primeiro Terceto: Continua a analogia, dizendo que esse "Senhor", agindo sob ordens superiores ("alta Majestade", que pode ser Deus ou o Rei), redimiu "nós" (o povo da Bahia) de um "triste cativeiro" e "vil calamidade".
  • Segundo Terceto: Conclui retoricamente, afirmando que somente um "verdadeiro Deus" (metaforicamente falando, uma figura poderosa e libertadora) poderia "estirpar" (eliminar, arrancar) da Bahia o "Faraó do povo brasileiro".

2. Identificação da Analogia Central:

  • Povo Hebreu = Povo da Bahia / Povo Brasileiro
  • Faraó (Egito) = "Faraó do povo brasileiro" (uma figura ou sistema opressor na Bahia/Brasil Colônia)
  • Deus (Libertador) = "Senhor, Deus da Bahia" (uma autoridade ou figura vista como libertadora)
  • Tirania/Cativeiro no Egito = "Triste cativeiro" / "Vil calamidade" na Bahia
  • Redenção / Libertação = Ação do "Senhor, Deus da Bahia"

3. Interpretação da Temática: A analogia serve para criticar a situação de opressão ("cativeiro", "calamidade") vivida na Bahia, personificada na figura do "Faraó do povo brasileiro". Este "Faraó" representa a autoridade ou o sistema de governo anterior ou ainda vigente que o eu lírico considera tirânico. Ao mesmo tempo, o poema elogia (ou expressa esperança em) uma nova figura de autoridade ("Senhor, Deus da Bahia"), comparando-a a um redentor divino. A crítica ao "Faraó" (o poder opressor) é o cerne da mensagem. Como essa crítica é feita por meio de uma comparação bíblica, ela é indireta, ou seja, velada.

4. Conexão com o Barroco: O poema utiliza recursos barrocos como o uso de temática religiosa (embora aplicada a um contexto secular), o jogo de contrastes (opressão vs. libertação, Faraó vs. Redentor), a linguagem rebuscada e a estrutura conceptista (baseada na analogia complexa).

5. Conclusão: A temática principal é a crítica a uma forma de governo ou autoridade opressora (o "Faraó"), feita de maneira indireta (velada) através de uma analogia com a história bíblica da libertação dos hebreus. Isso corresponde diretamente à alternativa C.

Dicas

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Preste atenção à comparação principal que estrutura o poema: a libertação dos Hebreus no Egito e a situação na Bahia.
Identifique quem são as figuras análogas: quem é o "Faraó" na Bahia? Quem é o libertador?
Pense sobre o que significa chamar uma autoridade de "Faraó".

Erros Comuns

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Interpretar o poema de forma literal, focando apenas no aspecto religioso sem perceber a analogia com a situação política da Bahia.
Confundir o uso de referências bíblicas com uma reflexão teológica ou sobre dogmas (erro que leva à alternativa D).
Supervalorizar a menção ao "povo brasileiro" e associá-la diretamente a uma discussão sobre identidade nacional (erro que leva à alternativa B).
Não perceber que a crítica é "velada", ou seja, feita de forma indireta através da analogia.
Não identificar o "Faraó do povo brasileiro" como uma metáfora para um governante ou sistema opressor.
Revisão

Revisão de Conceitos

  • Barroco: Estilo artístico e literário que floresceu entre o final do século XVI e meados do século XVIII. Caracteriza-se por dualismos (fé vs. razão, pecado vs. perdão, vida vs. morte), forte presença da religiosidade (muitas vezes em conflito com o paganismo ou o secularismo), linguagem rebuscada (hipérboles, metáforas complexas, inversões - Cultismo) e jogo de ideias e conceitos (raciocínio lógico, analogias - Conceptismo).
  • Gregório de Matos (1636-1696): Poeta barroco brasileiro, conhecido como "Boca do Inferno" por sua poesia satírica, que criticava a sociedade colonial baiana, incluindo autoridades políticas e eclesiásticas. Produziu também poesia lírica (amorosa e religiosa) e encomiástica (de louvor).
  • Analogia/Alegoria: Figuras de linguagem que estabelecem uma relação de semelhança entre duas realidades distintas. A alegoria é geralmente mais extensa, como uma narrativa inteira que pode ser interpretada em outro nível de significado (ex: a história do Êxodo usada aqui para falar da política baiana).
  • Interpretação de Texto Poético: Requer atenção à linguagem figurada, à estrutura do poema (estrofes, versos, rimas), ao contexto histórico e biográfico do autor (quando relevante) e à identificação do tema central e das ideias secundárias.
31%
Taxa de acerto
11.2
Média de pontos TRI
Habilidade

Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.

Porcentagem de alternativa escolhida por nota TRI
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