Leia o Texto 2 para responder às questões de 04 a 07.
Texto 2
Lágrimas para irmãos siameses
Eram duas vezes dois irmãos siameses, nascidos um com o braço no braço do outro fundido. Se pareciam como uma folha e a seguinte. De nomes como assim: Osório e Irrisório. Cresceram os dois, um em consequência do outro. Recíprocos, simultâneos e simétricos. Ainda menininhos, o doutor advisou a mãe:
― Podemos separá-los agora, este é o momento conveniente.
Separá-los. Por quê? Se Deus os queria carne com osso? Se davam bem, amiguíssimos, vizinhos, repartindo o tudo e o nada. Os pais, remediados, compraram um único relógio que ambos partilhavam no comum antebraço. Ao apertar a corrente do relógio, a mãe sentenciou:
― Assim, o tempo nunca lhes vai dividir.
O tempo, esse mesmo, foi descaiando espelhos e os siameses começaram a engrossar a vista em saia e peito. Osório, sobretudo, era mais espevitado. Irrisório era mais metido em si, olhos caseiros. Osório, às duas por muitas, se apaixonou por Marineusa. Se adonzelou com ela, esfregando-se nela até gastar o umbigo. Havia, óbvio, o problema do mano que estava ali, mesmo ao braço de semear. Osório lhe pedia que fechasse olho, tapasse ouvido, alheasse sentido. Irrisório tranquilizava:
― Sou homem correcto, descanse mano ó. Irrisório, por voz de promessa, sossegava o irmão. O pai, sabedor da vida, sugeriu um encontro familiar. E disse assim:
― Vão chegar mulheres e amores. Melhor é vocês separarem-se!
Mas eles negaram. Eram fiéis, como a canção: juntos para sempre. O pai manteve o mandamento. Porém, foi enfraquecendo perante a insistência dos gêmeos:
― Mas, pai, nós, assim alicateados, saímos baratos a Deus: precisamos só de um anjo da guarda.
E o outro ainda reforçava:
― Como podemos separar? Se cada um da gente só tem uma mão?
― É. Só os dois é que somos um. Todos riram, arrumado o assunto. Antes de se retirar, o pai ainda sacudiu uma resignação:
― Vão ver, o amor junta, o amor separa. (...)
In: COUTO, Mia. Contos do nascer da terra. Lisboa: Ed. Caminho, 1997.
Qual expressão pode substituir as palavras sublinhadas sem perda de sentido no fragmento: “Separá-los. Por quê? Se Deus os queria carne com osso?”?
“Por qual razão?”.
“Por isso?”.
“Como assim?”.
“Como fazer?”.