(...) quais mecanismos levaram à escravidão nas sociedades africanas do século VII ao século XV?
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Genericamente, a escravidão esteve presente na África como um todo, fazendo-se necessário observar as especificidades históricas próprias de complexos sociais e políticos e das formas de poder das diversas sociedades africanas. Mas é fundamental acrescentar que a dinâmica e a intensidade da escravidão no continente africano tem a ver com a maior ou menor demanda do tráfico atlântico gerada pelo expansionismo europeu na América. Isso acarreta mudanças sociais na África, como a expansão e a subsequente transformação da poligenia, o desenvolvimento de diferentes tipos de escravidão no continente, além do empobrecimento de uma classe de mercadores africanos
(Leila Leite Hernandez, A África na sala de aula: visita à história contemporânea, 2008, p. 37-8)
A partir do fragmento, é correto afirmar que
a maior mudança ocorrida na África, após a imposição do colonialismo ibérico, esteve relacionada com a passagem da mercantilização do trabalho compulsório para formas mais brandas de exploração da escravidão, com o avanço de direitos para os africanos convertidos ao cristianismo.
a chegada do colonialismo europeu na África subsaariana foi fundamental para o desenvolvimento do continente, em razão da organização do tráfico intercontinental de escravos, permitindo que a maior parte das rendas advindas dessa atividade ficasse no próprio continente.
a existência da escravidão na África negra era desconhecida até a chegada dos primeiros exploradores coloniais, caso dos portugueses, que impuseram essa forma de organização do trabalho, condição necessária para a posterior acumulação de capitais entre as elites regionais africanas.
as práticas de utilização do trabalho compulsório em todo o território africano, até a chegada dos exploradores europeus, estavam articuladas com a essência da religiosidade do continente, caracterizada pela concepção de que os sacrifícios materiais levavam os homens à graça divina.
a escravidão existente no continente africano, antes da expansão marítima, tinha uma multiplicidade de características, sendo inclusive doméstica, e o tráfico de escravos, para atender aos interesses mercantilistas europeus, trouxe decisivas transformações para as inúmeras regiões da África.
Neste exercício, analisa-se a influência do tráfico atlântico na intensificação e na transformação da escravidão no continente africano. O trecho mostra que a escravidão já existia com feições diversas na África desde antes das navegações europeias, mas passaria por transformações profundas devido às demandas do comércio intercontinental.
Observa-se, ainda, que o fragmento descreve transformações sociais importantes, como a expansão e a posterior mudança na poliginia, o surgimento de diferentes tipos de escravidão e o empobrecimento de certos segmentos africanos, ao mesmo tempo em que beneficiava grupos ligados ao tráfico de escravos. Isso contraria a ideia de que a escravidão tenha sido imposta pelos colonizadores europeus a um continente até então livre de trabalho compulsório ou que tenha se tornado mais branda ao longo do processo.
A resposta correta (alternativa E) reforça justamente o fato de que havia escravidão em diferentes modalidades na África antes das Grandes Navegações e que o envolvimento no comércio transatlântico causou mudanças intensas e abrangentes, especialmente em função da demanda do sistema mercantilista europeu.
1. Escravidão na África pré-colonial: A escravidão já existia em diversas sociedades africanas, assumindo formas como a escravidão doméstica, dívidas de guerra e trabalho compulsório variado.
2. Tráfico atlântico: A expansão marítima europeia e a demanda por escravos nas Américas intensificaram essas formas de escravidão, alterando as dinâmicas sociais, econômicas e culturais do continente africano.
3. Transformações sociais: Desde o aumento de disputas internas até o surgimento de novos grupos mercadores que se enriqueciam com o tráfico, o continente passou por mudanças profundas.