Para que ninguém a quisesse
Porque os homens olhavam demais para a sua mulher, mandou que descesse a bainha dos vestidos e parasse de se pintar. Apesar disso, sua beleza chamava a atenção, e ele foi obrigado a exigir que eliminasse os decotes, jogasse fora os sapatos de saltos altos. Dos armários tirou as roupas de seda, das gavetas tirou todas as joias. E vendo que, ainda assim, um ou outro olhar viril se acendia à passagem dela, pegou a tesoura e tosquiou-lhe os longos cabelos.
Agora podia viver descansado. Ninguém a olhava duas vezes, homem nenhum se interessava por ela. Esquiva como um gato, não mais atravessava praças. E evitava sair.
Tão esquiva se fez, que ele foi deixando de ocupar-se dela, permitindo que fluísse em silêncio pelos cômodos, mimetizada com os móveis e as sombras.
Uma fina saudade, porém, começou a alinhavar-se em seus dias. Não saudade da mulher. Mas do desejo inflamado que tivera por ela.
Então lhe trouxe um batom. No outro dia um corte de seda. À noite tirou do bolso uma rosa de cetim para enfeitar-lhe o que restava dos cabelos.
Mas ela tinha desaprendido a gostar dessas coisas, nem pensava mais em lhe agradar. Largou o tecido numa gaveta, esqueceu o batom. E continuou andando pela casa de vestido de chita, enquanto a rosa desbotava sobre a cômoda.
(Marina Colasanti. Livro “Um espinho de marfim e outras histórias”. Porto Alegre: L&PM, 1999.)
Preposição é toda palavra variável que conecta dois ou mais termos da oração. Nessa ligação, um termo fica subordinado ao outro. Assinale, a seguir, a afirmativa na qual tal classe gramatical está associada à ideia de posição superior ou proximidade.
“Dos armários tirou as roupas de seda (...)” (1º§)
“(...) mimetizada com os móveis e as sombras.” (3º§)
“(...) enquanto a rosa desbotava sobre a cômoda.” (6º§)
“Porque os homens olhavam demais para a sua mulher, (...)” (1º§)