PORQUINNHO-DA-ÍNDIA
Quando eu tinha seis anos
Ganhei um porquinho-da-índia.
Que dor de coração me dava
Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão!
Levava ele pra sala
Pra os lugares mais bonitos mais limpinhos
Ele não gostava:
Queria era estar debaixo do fogão.
Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas…
— O meu porquinho-da-índia foi a minha primeira namorada.
(Manuel Bandeira. Libertinagem e Estrela da manhã.)
Manuel Bandeira é considerado um dos mais importantes poetas da primeira geração modernista brasileira. O poema em questão é um bom exemplo da renovação estética proposta pelo grupo de modernistas que, dentre seus propósitos, defendia:
a arte pela arte, o rigor na composição formal, preferencialmente com uso de esquema rítmico regular.
a inserção de temas do cotidiano das pessoas, aproximando a poesia da vida, valorizando a simplicidade da linguagem.
a idealização da natureza, da fauna e da flora, como elementos símbolos da nacionalidade.
a supressão do lirismo amoroso, ironizando e ridicularizando as paixões adolescentes, especialmente as não correspondidas.
a valorização da variante padrão da língua, com o objetivo de promover a homogeneização da fala dos brasileiros.