Poesia, não será esse
o sentido em que
ainda te escrevo:
flor! (Te escrevo:
flor! Não uma
flor, nem aquela
flor-virtude – em
disfarçados urinóis.)
[...]
Poesia, te escrevo
agora: fezes, as
fezes vivas que és.
Sei que outras
palavras és, palavras
impossíveis de poema.
Te escrevo, por isso,
fezes, palavra leve
MELO NETO, João Cabral de. Psicologia da composição. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. p. 101.
Esses versos são de João Cabral de Melo Neto, poeta cronologicamente situado na chamada Geração de 45 (Modernismo brasileiro). A sua poesia afasta-se dessa geração ao revelar uma atitude peculiar em face do fazer poético.
Isso se comprova, no texto, através
do apego à poesia de tom confessional.
da exploração intensa da musicalidade do verso.
do desinteresse pelo questionamento do “estar-no-mundo”.
de um processo de criação artística ancorado no estado emocional ditado pela inspiração.
da busca de uma poesia desprovida de subjetividade marcante, o que torna seu dizer poético singular.