Pode-se afirmar corretamente, a respeito do soneto de Gregório de Matos, abaixo, que
DESCREVE O QUE ERA NAQUELE TEMPO A CIDADE DA BAHIA
A cada canto um grande conselheiro,
Que nos quer governar cabana, e vinha,
Não sabem governar sua cozinha,
E podem governar o mundo inteiro.
Em cada porta um bem frequente olheiro,
Que a vida do vizinho, e da vizinha
Pesquisa, escuta, espreita, e esquadrinha,
Para o levar à praça, e ao terreiro.
Muitos mulatos desavergonhados,
Trazidos sob os pés os homens nobres,
Posta nas palmas toda a picardia.
Estupendas usuras nos mercados,
Todos, os que não furtam, muito pobres,
E eis aqui a cidade da Bahia.
o emprego de “sabem” e “podem”, no plural, se explica por alusão ideológica às pessoas que há em diversos lugares sempre dispostas a emitir sugestões de comportamentos.
em “Todos, os que não furtam, muito pobres”, há uma inversão do tipo hipérbato, o que justifica o emprego das vírgulas em “, os que não furtam,”.
“picardia” está usado no sentido de “elegância”
pela linguagem, o poeta barroco enaltece a cidade da Bahia, com seus pontos altos e baixos, e sua dualidade constante.
no trecho “que nos quer governar (a) cabana”, o pronome “nos”, pessoal do caso oblíquo, foi empregado com valor possessivo (nos = nossa), característica da fase barroca, emprego que não se justifica hoje em dia.