ENEM 2009 (prova vazada)

  Pobre Isaura! Sempre e em toda parte esta contínua importunação de senhores e de escravos, que não a deixam sossegar um só momento! Como não devia viver aflito e atribulado aquele coração! Dentro de casa contava ela quatro inimigos, cada qual mais porfiado em roubar-lhe a paz da alma, e torturar-lhe o coração: três amantes, Leôncio, Belchior, e André, e uma êmula terrível e desapiedado, Rosa. Fácil Ihe fora repelir as importunações e insolências dos escravos e criados; mas que seria dela, quando viesse o senhor?!...
GUIMARÃES, B. A escrava Isaura. São Paulo: Ática, 1995 (adaptado).
A personagem Isaura, como afirma o título do romance, era uma escrava. No trecho apresentado, os sofrimentos por que passa a protagonista
a

assemelham-se aos das demais escravas do país, o que indica o estilo realista da abordagem do tema da escravidão pelo autor do romance.

b

demonstram que, historicamente, os problemas vividos pelas escravas brasileiras, como Isaura, eram mais de ordem sentimental do que física.

c

diferem dos que atormentavam as demais escravas do Brasil do século XIX, o que revela o caráter idealista da abordagem do tema pelo autor do romance.

d

indicam que, quando o assunto era o amor, as escravas brasileiras, de acordo com a abordagem lírica do tema pelo autor, eram tratadas como as demais mulheres da sociedade.

e

revelam a condição degradante das mulheres escravas no Brasil, que, como Isaura, de acordo com a denúncia feita pelo autor, eram importunadas e torturadas fisicamente pelos seus senhores.

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Resposta
C
Tempo médio
2 min

Resolução

A questão pede para analisar o tipo de sofrimento da personagem Isaura, descrito no trecho, e relacioná-lo ao contexto histórico da escravidão e ao estilo literário da obra "A Escrava Isaura".

  1. Análise do Trecho: O fragmento descreve Isaura como alvo de "contínua importunação" por parte de senhores (Leôncio) e escravos (Belchior, André, Rosa). Três deles são "amantes" indesejados, e uma é uma "êmula terrível" (rival). O sofrimento destacado é o tormento emocional e psicológico: "roubar-lhe a paz da alma", "torturar-lhe o coração". Há uma menção à impotência diante do "senhor", contrastando com a possibilidade de repelir os outros.
  2. Contexto da Obra e Personagem: "A Escrava Isaura", de Bernardo Guimarães, é uma obra do Romantismo brasileiro. Isaura é retratada de forma idealizada: é uma escrava, mas possui pele branca, é educada, refinada, bela e virtuosa. Essas características a distinguem da maioria das pessoas escravizadas no Brasil do século XIX.
  3. Comparação com a Realidade Histórica: A realidade da escravidão no Brasil envolvia trabalho forçado extenuante, castigos físicos brutais, condições de vida desumanas, separação de famílias e exploração sexual sistemática e violenta, sem o verniz "romântico" da perseguição amorosa que Isaura sofre devido às suas qualidades excepcionais. O sofrimento da maioria das escravas estava ligado a essa brutalidade cotidiana, muito diferente do assédio sentimental descrito no trecho como o principal tormento de Isaura.
  4. Análise das Alternativas:
    • A: Incorreta. O sofrimento de Isaura, centrado no assédio por sua beleza e virtude idealizadas, não é representativo da experiência da maioria das escravas. Além disso, a obra é Romântica, não Realista.
    • B: Incorreta. Embora o trecho foque no aspecto sentimental, não se pode generalizar que os problemas das escravas eram *mais* sentimentais que físicos. A violência física era uma constante na escravidão.
    • C: Correta. O sofrimento de Isaura, ligado à sua condição idealizada (beleza, pureza, educação, pele clara), difere do sofrimento típico das demais escravas (trabalho brutal, castigos físicos). Essa idealização é uma característica do Romantismo, que aborda o tema da escravidão de forma mais sentimental e menos crua que o Realismo.
    • D: Incorreta. As escravas não eram tratadas como as mulheres livres da sociedade em nenhum aspecto, muito menos no amoroso. Eram vistas como propriedade e sujeitas à exploração.
    • E: Incorreta. Embora a condição fosse degradante, o trecho enfatiza a tortura psicológica ("paz da alma", "coração") decorrente do assédio, e não tortura física. A denúncia da escravidão na obra é feita através de uma ótica Romântica e idealizada.
  5. Conclusão: A alternativa C é a que melhor descreve a situação apresentada no trecho, conectando a especificidade do sofrimento de Isaura (diferente da maioria) com a abordagem idealista (Romântica) do autor.

Dicas

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Pense nas características que tornam Isaura uma personagem especial dentro do universo da escravidão (sua aparência, educação, etc.).
Lembre-se das diferenças entre os estilos literários Romantismo e Realismo na abordagem de temas sociais.
Compare o tipo de sofrimento descrito no trecho (assédio, tormento da alma) com as formas mais comuns de sofrimento impostas pela escravidão (trabalho forçado, castigos físicos).

Erros Comuns

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Não reconhecer que "A Escrava Isaura" pertence ao Romantismo e, portanto, apresenta idealizações.
Confundir a abordagem Romântica do tema da escravidão com uma abordagem Realista.
Generalizar o sofrimento específico e idealizado de Isaura como se fosse representativo da experiência de todas as mulheres escravizadas.
Ignorar o contexto histórico da brutalidade física e desumanização da escravidão ao analisar o foco sentimental do trecho.
Interpretar a "tortura" mencionada no trecho como primariamente física, quando o texto enfatiza o sofrimento da "alma" e do "coração".
Revisão

Para resolver esta questão, é importante revisar:

  • Romantismo no Brasil: Movimento literário (século XIX) caracterizado pelo sentimentalismo, subjetivismo, idealização (da mulher, do amor, do índio), nacionalismo e, em algumas obras, abordagem de temas sociais como a escravidão, mas frequentemente de forma idealizada ou melodramática.
  • Realismo no Brasil: Movimento literário posterior ao Romantismo, que buscava uma representação mais objetiva e crítica da realidade social, sem idealizações, com análise psicológica das personagens e denúncia das mazelas sociais (ex: obras de Machado de Assis na fase realista, Aluísio Azevedo).
  • Contexto Histórico da Escravidão no Brasil: Compreender as condições reais de vida das pessoas escravizadas no século XIX: trabalho forçado, violência física e sexual, ausência de direitos, desumanização.
  • A Obra "A Escrava Isaura": Saber que é um romance romântico que, apesar de abordar a escravidão, o faz através de uma protagonista altamente idealizada (branca, culta, virtuosa), cujo sofrimento se diferencia daquele vivido pela massa de escravizados.
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