Para responder à questão, leia o trecho do prefácio do livro Suspiros poéticos e saudades, de Gonçalves de Magalhães, publicado em 1836.
Pede o uso que se dê um prólogo ao Livro, como um pórtico ao edifício; e como este deve indicar por sua construção a que Divindade se consagra o templo, assim deve aquele designar o caráter da obra. Santo uso de que nos aproveitamos, para desvanecer alguns preconceitos, que talvez contra este livro se elevem em alguns espíritos apoucados.
É um Livro de Poesias escritas segundo as impressões dos lugares; ora assentado entre as ruínas da antiga Roma, meditando sobre a sorte dos impérios; ora no cimo dos Alpes, a imaginação vagando no infinito como um átomo no espaço; ora na gótica catedral, admirando a grandeza de Deus, e os prodígios do Cristianismo; ora entre os ciprestes que espalham sua sombra sobre túmulos; ora enfim refletindo sobre a sorte da Pátria, sobre as paixões dos homens, sobre o nada da vida. São poesias de um peregrino, variadas como as cenas da Natureza, diversas como as fases da vida, mas que se harmonizam pela unidade do pensamento, e se ligam como os anéis de uma cadeia; poesias d’alma e do coração, e que só pela alma e o coração devem ser julgadas.
(Apud Antonio Candido e José Aderaldo Castelo. Presença da literatura brasileira I, 1985.)
O prefácio de Gonçalves de Magalhães inaugura no Brasil os tópicos fundamentais
da estética neoclássica, pois preza pelo retorno à antiguidade greco-romana, pela natureza como espaço ameno de reflexão, além de privilegiar a poesia racionalista.
da escola barroca, já que escreve de maneira rebuscada e artificiosa, cheia de inversões sintáticas e expressões obscurantistas, sempre no intuito de confundir a assimilação fluida do leitor.
da primeira fase do romantismo, pois demonstra seu apego à religião e ao patriotismo, bem como a valorização do individualismo sentimental e a defesa da liberdade de expressão na criação poética.
do decadentismo simbolista, pois demonstra o gosto pelas coisas em estado de decomposição, pela imaginação vaga e pelo cristianismo como forma de transcendência espiritual do indivíduo.
do realismo e do naturalismo, já que se vale do uso da ironia, desqualificando de modo crítico os impérios passados, a religião cristã e o destino da pátria governada por homens corruptos.