Para responder à questão, leia o texto abaixo.
AS BELAS E AS FERAS
“A Bela e a Fera”, de Bill Condon, é ótimo para crianças, mas, pelo que eu vi, seu grande sucesso é com os jovens casais de namorados. É o sonho de um amor que teria o poder de redimir, de transformar o outro e de torná-lo mais amável – essa transformação sendo, aliás, uma justa recompensa para quem aguentou amar o monstro.
Em suma, como cantavam os Beatles, o amor é tudo de que precisamos, mas, atenção: não é por isso que, no amor e pelo amor, seja garantido que a gente consiga transformar o outro. Recomendase, aliás, NÃO se engajar numa relação com a ideia de que, graças ao nosso amor, o outro será transformado ou mesmo, mais modestamente, que seus defeitos se amenizarão.
Ao contrário, regra quase absoluta: se e quando o amor parece ter transformado seu ente querido (do jeito que você esperava), prepare-se para assistir à volta inexorável de quem o outro sempre foi e, de fato, nunca deixou de ser.
A sensação frequente, que mencionei antes, de que casamos com príncipes e acordamos na cama com feras, tem sua origem justamente neste fenômeno: o amor nos vende a ilusão de que, graças a ele, as feras se tornam príncipes, mas, de fato, só há príncipes temporários.
Diante dessa regra, o que fazer? A saída consiste em amar o outro como ele/ela é – ou seja, amar a fera por ela mesma. Essa é a melhor parte da história de “Bela e a Fera”: para conseguir um príncipe, é preciso amar uma fera. Acredito que o amor se torna mesmo possível justamente quando ambos os amantes descobriram e sabem que o outro não é um príncipe, mas uma fera.
No filme de Condon, uma frase de Bela deixa pensar que, para ela, talvez a fera fosse mais interessante do que o príncipe. Mas, justamente, o amor só tem uma chance de funcionar sem idealização, ou seja, quando os amantes acabam gostando do que há de pior no outro.
(Contardo Calligaris. http://www1.folha.uol.com.br/colunas/contardocalligaris/2017/03/1868737-as-belas-e-as-feras.shtml Acessado em: 24/03/2017. Texto adaptado.)
O texto de Contardo Calligaris aproxima-se do gênero ensaístico por valorizar
a narrativa.
as imagens.
a argumentação.
a intertextualidade.