FCMMG 2016

Para responder à questão, leia o texto a seguir.

 

TROTE NUNCA MAIS

 

  Eu tive taquicardia e as tripas reviraram quando vi na televisão as novas cenas de violência nos trotes universitários. Lembrei as humilhações que sofri no meu ingresso na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pernambuco. Sempre evito escrever sobre o assunto porque não contenho a raiva. Pedro Almodóvar relutou em filmar Má educação, pois não se distanciara bastante dos sofrimentos da infância e adolescência. No filme Os sete samurais, do japonês Akira Kurosawa, um mestre observa dois samurais que se preparam para lutar e informa ao discípulo qual deles irá morrer. O jovem pergunta como ele sabe isso e o mestre responde que o futuro morto é o que expressa raiva.

  É possível atenuar o rancor, escrevendo sobre ele. No Recife já não existem trotes, apenas calouradas, festejos para acolher os novos alunos. Mas foi no Recife que aconteceu o primeiro caso de morte em consequência de um trote, quando mataram a facadas o estudante de direito Francisco Cunha e Menezes, no ano de 1831. Vindo desde a Idade Média, o costume ganhou prestígio em Portugal, sobretudo na Universidade de Coimbra, e de lá, como tudo o mais que não presta, veio para o Brasil.

  Nos primeiros anos da ditadura militar, o trote era um recurso de expressão e protesto dos jovens estudantes, uma forma de fazer política. Em 1968, o AI-5 fechou o Congresso Nacional e os trotes foram reprimidos, descambando para a violência. Foi nesse clima de terror que me apresentei para a matrícula no curso de medicina. Eu era um estudante vindo do interior do Ceará, que frequentara apenas quatro meses de cursinho, pobre, tímido e feio. Com todos esses predicados desfavoráveis, eu abocanhara uma boa classificação no vestibular das duas faculdades públicas.

  Um dos primeiros maus-tratos a que os alunos do segundo e terceiro ano me submeteram foi raspar minha cabeça, expondo o crânio nada bonito. Depois me obrigaram a despir a camisa e baixar a calça para jogarem os meus cabelos dentro dela. Subjugado como um judeu num campo de concentração, ou como o próprio Cristo, me empurraram, espancaram, e fizeram de minha perplexidade motivo de riso e vaias. O pior estava por vir. Obrigaram-me a rolar pelos gramados do pátio e em seguida mergulhar cinco vezes num esgoto a céu aberto, que corria por dentro da faculdade. Meus algozes eram estudantes de medicina e sabiam dos riscos a que estavam me submetendo.

  No primeiro ano de curso, os colegas dos anos superiores me aterrorizavam mais do que a polícia da repressão. Eu não compreendia como jovens de classe média que frequentaram bons colégios e que agora estudavam medicina, uma profissão de elite, se entregavam a tais vandalismos. Não achava a menor graça no comportamento cafajeste e infantil de boa parte deles e atribuía à repressão da ditadura o fato de se manterem alienados da política, da cultura e dos valores éticos e filosóficos da profissão para a qual se preparavam.

  Passados tantos anos, esquecidos os fantasmas do Quarto Exército, em alguns lugares do Brasil, a instituição do trote continua fazendo suas vítimas. Bem recentemente, numa faculdade de medicina, onde se formam pessoas para cuidar da saúde e restituir a vida, um jovem calouro foi morto. E uma estudante de pedagogia queimou sem escrúpulo suas futuras colegas de educação.

  Não era por culpa da ditadura militar que os piores instintos afloravam nos jovens promovedores dos trotes. Não era. A prova é que continuam aflorando em tempos de democracia. O trote "se sustenta na ameaça e promove o terror", como afirma Paulo Denisar Fraga. O mesmo exercício da ditadura no passado recente.

(BRITO, Ronaldo Correia de. Crônicas para ler na escola. R.J.: Fontanar, 2012, p.69-71.)

O autor nomeia, de forma mais incisiva, os estudantes que praticam o trote violento em:

a

“Não achava a menor graça no comportamento cafajeste e infantil de boa parte deles e atribuía à repressão da ditadura o fato de se manterem alienados da política, da cultura e dos valores éticos e filosóficos da profissão para a qual se preparavam.” 

b

“Eu não compreendia como jovens de classe média que frequentaram bons colégios e que agora estudavam medicina, uma profissão de elite, se entregavam a tais vandalismos.” 

c

“Não era por culpa da ditadura militar que os piores instintos afloravam nos jovens promovedores dos trotes.”

d

“Meus algozes eram estudantes de medicina e sabiam dos riscos a que estavam me submetendo.”

Ver resposta
Ver resposta
Resposta
D
Resolução
Assine a AIO para ter acesso a esta e muitas outras resoluções
Mais de 300.000 questões com resoluções e dados exclusivos disponíveis para alunos AIO.
E mais: nota TRI a todo o momento.
Saiba mais
Esta resolução não é pública. Assine a aio para ter acesso a essa resolução e muito mais: Tenha acesso a simulados reduzidos, mais de 200.000 questões, orientação personalizada, video aulas, correção de redações e uma equipe sempre disposta a te ajudar. Tudo isso com acompanhamento TRI em tempo real.
Dicas
expand_more
expand_less
Dicas sobre como resolver essa questão
Erros Comuns
expand_more
expand_less
Alguns erros comuns que estudantes podem cometer ao resolver esta questão
Conceitos chave
Conceitos chave sobre essa questão, que pode te ajudar a resolver questões similares
Estratégia de resolução
Uma estratégia sobre a forma apropriada de se chegar a resposta correta
Transforme seus estudos com a AIO!
Estudantes como você estão acelerando suas aprovações usando nossa plataforma de IA + aprendizado ativo.
+25 pts
Aumento médio TRI
4x
Simulados mais rápidos
+50 mil
Estudantes
Joice Neves
Faltavam 3 meses para o ENEM, eu estava desesperada e mentalmente fragilizada por não ver os resultados do meu esforço. Então, eu encontrei a AIO e, em 3 meses, eu consegui aumentar a minha nota média em 50 pontos. Meses depois, fui aprovada no curso que eu tanto desejei. Esse sonho se tornou real graças à AIO.
Jefferson, formando em Medicina
Com a plataforma AIO consegui acertar as 45 questões de ciências humanas no ENEM 2022! Sem dúvidas, obter a nota máxima nessa área, foi imprescindível para ser aprovado em medicina.
Débora Adelina
O que mais gostei foi a forma como a plataforma seleciona matérias em que tenho mais dificuldade, ajudando a focar no que realmente preciso de atenção. Ainda não consegui minha aprovação, mas contarei com a AIO por mais um ano pois a plataforma me aproximou desse objetivo tornando meus estudos mais direcionados!
A AIO utiliza cookies para garantir uma melhor experiência. Ver política de privacidade
Aceitar