Para responder à questão, leia o texto a seguir.
O TORPEDO NO VESTIBULAR
§1 “A polícia do Rio de Janeiro prendeu quatro estudantes que tentavam fraudar o vestibular de medicina na Universidade Gama Filho. Uma quadrilha teria cobrado entre R\$ 10 mil e R\$ 15 mil pela transmissão do gabarito do exame por meio de mensagens de texto (31/01/2006)”
§2 Apesar do fracasso dos quatro vestibulandos que haviam tentado fraudar a prova mediante mensagens pelo celular, ela decidiu fazer a mesma coisa. Em primeiro lugar, porque morava numa cidade muito menor que o Rio, no qual as medidas de segurança não eram tão rigorosas. Depois, não recorreria a quadrilha nenhuma, coisa que, segundo imaginava, tornava a operação vulnerável. Em terceiro lugar, não tinha outra opção: não sabia quase nada, e era certo que seria reprovada. Por último, havia uma coincidência favorável: estava com antebraço esquerdo engessado. Nada preocupante, na verdade até poderia ter tirado o gesso, mas não o fizera, o que se revelara providencial: agora contava com um ótimo esconderijo para o celular.
§3 Quem mandaria o gabarito? O namorado, claro. Rapaz inteligente (já estava cursando a faculdade), só teria de perguntar as questões para alguém que tivesse terminado a prova e enviar o gabarito por torpedo. Quando fez a proposta ao rapaz, ele pareceu um tanto relutante, incomodado mesmo. E no dia do vestibular ela descobriu por quê.
§4 Quarenta minutos depois de iniciada a prova, ela recebeu o tão esperado torpedo. Para sua surpresa, não continha o gabarito, e sim uma mensagem: “Sinto muito, mas não posso continuar namorando uma pessoa tão desonesta. Considere terminada a nossa relação. PS: Boa sorte no vestibular.” Com o que ela foi obrigada a concluir: tão importante quanto o torpedo é aquele que dispara o torpedo.
(SCLIAR, Moacyr. Histórias que os jornais não contam. Rio de Janeiro: Agir, 2009. p.97.)
O livro de Moacyr Scliar inspira-se em fatos jornalísticos e contém histórias fictícias, marcadas pela crítica social, pelo comentário político ou apenas pelo humor puro e simples. A história apresentada caracteriza-se por conter aspectos
éticos.
poéticos.
satíricos.
didáticos.