Para responder à questão, considere o trecho abaixo, de Jorge Amado.
Só Gabriela parecia não sentir a caminhada, seus pés como que deslizando pela picada muitas vezes aberta na hora a golpes de facão, na mata virgem. Como se não existissem as pedras, os tocos, os cipós emaranhados. A poeira dos caminhos da caatinga a cobrira tão por completo que era impossível distinguir seus traços. Nos cabelos já não penetrava o pedaço de pente, tanto pó se acumulara. Parecia uma demente perdida nos caminhos. Mas Clemente sabia como ela era deveras e o sabia em cada partícula de seu ser, na ponta dos dedos e na pele do peito. Quando os dois grupos se encontraram, no começo da viagem, a cor do rosto de Gabriela e de suas pernas era ainda visível e os cabelos rolavam sobre o cangote, espalhando perfume. Ainda agora, através da sujeira a envolvê-la, ele a enxergava como a vira no primeiro dia, encostada numa árvore, o corpo esguio, o rosto sorridente, mordendo uma goiaba (Gabriela, cravo e canela: crônica de uma cidade do interior. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. p.76
O fragmento acima
deixa transparecer um narrador que não só percebe o que os olhos lhe permitiriam ver, mas que também tem acesso ao que se dá no interior da personagem
é construído exclusivamente por imagens que se fixam passo a passo na retina do narrador, que, ao retratá-las, deixa entrever seu fascínio pela personagem, tão bela quanto a vira no primeiro dia.
constitui bloco de suposições feitas pelo narradorpersonagem enquanto observa a protagonista em sua caminhada pela mata virgem.
é todo organizado por meio do discurso indireto livre, mantendo-se o narrador na posição única de dar passagem às sensações, pensamentos e sentimentos daquele que, caminhando junto a Gabriela, tão bem a conhecia.
mostra um narrador que, aparentemente privilegiando relatar a caminhada de Gabriela, tem o espaço como verdadeiro centro de interesse, descrevendo-o em pormenores