Texto para os itens de 1 a 18.
1__ À exceção das crianças (que não sabem o suficiente para deixar de fazer as perguntas importantes), poucos de
nós dedicamos muito tempo a perguntar por que a natureza é como é; de onde vem o cosmos, ou se ele sempre esteve
ali; se um dia o tempo irá para trás e os efeitos precederão às causas; ou se há limites definitivos ao que devem saber os
4 humanos. Há até crianças que querem saber como é um buraco negro; qual é o menor pedaço de matéria; por que nos
lembramos do passado, e não do futuro.
__ De vez em quando, tenho a sorte de ensinar em um jardim de infância ou em uma classe do primeiro ano primário.
7 Encontro muitas crianças que são cientistas natos, embora tenham mais desenvolvido o lado da admiração que o do
ceticismo. São curiosas, têm vigor intelectual. Ocorrem-lhes perguntas provocadoras e perspicazes. Fazem uma série de
perguntas encadeadas. Elas nunca ouviram falar da ideia de uma “pergunta estúpida”.
10__ Mas, quando falo com estudantes do último ano do secundário, encontro algo diferente. Eles memorizam os
“fatos”, mas, em geral, perderam o prazer do descobrimento, da vida que se oculta por trás desses fatos. Perderam grande
parte da admiração e ganharam muito pouco ceticismo. Ficam preocupados com a possibilidade de fazer perguntas
13 “estúpidas”; estão dispostos a aceitar respostas inadequadas; não fazem perguntas encadeadas; a sala fica cheia de olhares
de esguelha para verificar, a cada segundo, a aprovação de seus pares.
__ Algo aconteceu entre o primeiro ano primário e o último ano secundário, e não foi apenas a puberdade. Eu diria
16 que é, em parte, a pressão dos companheiros para não se sobressair (exceto nos esportes); em parte, o fato de a sociedade
ensinar gratificações a curto prazo; em parte, a impressão de que a ciência e a matemática não ajudam ninguém a comprar
um carro esportivo; em parte, que se espere tão pouco dos estudantes.
19__ Mas há algo mais: conheço muitos adultos que ficam desconcertados quando as crianças pequenas fazem
perguntas científicas. “Por que a Lua é redonda?”, perguntam as crianças. Por que a grama é verde? O que é um sonho?
Até que profundidade se pode cavar um buraco? Muitos pais e professores respondem com irritação ou zombaria, ou
22 mudam rapidamente de assunto: “Como você queria que a Lua fosse? Quadrada?”. As crianças logo reconhecem que, por
alguma razão, esse tipo de pergunta incomoda os adultos. Novas experiências semelhantes, e mais uma criança perde o
interesse pela ciência. Não entendo por que os adultos fingem saber tudo diante de uma criança de seis anos. O que há de
25 errado em admitir que não sabemos alguma coisa? É tão frágil assim nossa autoestima?
__ Além disso, muitas dessas perguntas se referem a problemas profundos da ciência, alguns dos quais ainda não
estão plenamente resolvidos. A grama é verde por causa do pigmento de clorofila, certamente, mas por que as plantas
28 têm clorofila? Parece uma tolice, pois o Sol produz sua máxima energia na parte amarela e verde do espectro. Por que as
plantas de todo o mundo rechaçam a luz solar em seus comprimentos de onda mais abundantes? Talvez seja um acidente
consolidado da antiga história da vida sobre a Terra. Mas há algo que ainda não compreendemos sobre a cor da grama.
31__ Existem muitas respostas melhores que dizer à criança que fazer perguntas profundas é uma espécie de erro social
crasso. Se temos uma ideia da resposta, podemos tentar explicá-la. Mesmo que a tentativa seja incompleta, ela
proporciona nova confiança e infunde ânimo. Se não temos nem ideia da resposta, podemos procurá-la em uma
34 enciclopédia. Se não temos enciclopédia, podemos levar a criança à biblioteca. Ou podemos dizer: “Não sei a resposta.
Talvez ninguém saiba. Quando você crescer, será talvez a primeira pessoa a descobrir tal coisa”.
__ Há perguntas ingênuas, perguntas tediosas, perguntas mal formuladas, perguntas expostas com uma inadequada
37 autocrítica. Mas toda pergunta é um grito para entender o mundo. Não existem perguntas estúpidas.
Carl Sagan. Não existem perguntas imbecis. In: O mundo assombrado pelos demônios:
a ciência vista como uma vela no escuro. Internet: <nerdking.net.br> (com adaptações).
Considerando as ideias, os sentidos e os aspectos linguísticos do texto apresentado, julgue os itens de 1 a 8.
Para defender a ideia de que não existem perguntas estúpidas, o autor menciona, como estratégia argumentativa, diferentes situações por ele vivenciadas ou observadas.
Certo
Errado