Palmeira, 21 de julho de 1890
Caro Leonida Bissolati
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O socialismo começou, para nós, já na fundação da Colônia. Pois nossos vizinhos, que acabáramos de conhecer, nos deram a primeira égua, as primeiras vacas e os primeiros porcos, além de colaborarem nas tarefas mais urgentes. Todos se ajudam aqui, num socialismo rudimentar de fraternidade agrária.
Um outro exemplo desse socialismo espontâneo está na maneira de se criar gado. Praticamente não existem cercas, as reses, marcadas com as iniciais do dono têm todo o direito de pastar nas propriedades públicas e particulares, nas beiras das matas, nos campos e mesmo nos jardins. Entende-se que o pasto é para todos, não havendo divisões. Com isso, o cruzamento, o parto e o aleitamento ocorrem em plena liberdade. Que belo exemplo para nós, socialistas!
A Colônia tem todas as condições para se desenvolver, mas ainda faltam novas famílias, preferencialmente de agricultores.
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Colônia Socialista Cecília
Giovanni Rossi
SANCHES NETO, Miguel. Um amor anarquista: uma mulher para três homens, uma terra para todos, um amor para sempre. Rio de Janeiro: Record, 1998. p. 35.
O fragmento, contextualizado na obra “Um amor anarquista”, permite afirmar que
a proposta socialista idealizada por Giovanni Rossi será concretizada ao longo do enredo.
o enunciador do discurso, na carta, apresenta argumentos frágeis e pessimistas diante da realidade enfocada.
o local em que se desenvolve o enredo está no âmbito da ficção, e as personagens não representam uma ideologia reconhecida historicamente.
o interlocutor de Giovanni Rossi precisa ser convencido da validade da proposta socialista, já que ele considera o Anarquismo uma desordem social, política e econômica.
Giovanni Rossi é um intelectual italiano que idealiza uma comunidade anarquista na América do Sul, cujos princípios socialistas atingiriam, além da produção, as relações pessoais.