UNESP 2014/2

Ossos do ofício

 

Uma vez uma besta do tesouro,

Uma besta fiscal,

Ia de volta para a capital,

Carregada de cobre, prata e ouro;

E no caminho

Encontra-se com outra carregada

De cevada,

Que ia para o moinho.

Passa-lhe logo adiante

Largo espaço,

Coleando arrogante

E a cada passo

Repicando a choquilha

Que se ouvia distante.

Mas salta uma quadrilha

De ladrões,

Como leões,

E qual mais presto

Se lhe agarra ao cabresto.

Ela reguinga, dá uma sacada

Já cuidando

Que desfazia o bando;

Mas, coitada!

Foi tanta a bordoada,

Ah! que exclamava enfim

A besta oficial:

— Nunca imaginei tal!

Tratada assim

Uma besta real!...

Mas aquela que vinha atrás de mim,

Por que a não tratais mal?

“Minha amiga, cá vou no meu sossego,

Tu tens um belo emprego!

Tu sustentas-te a fava, e eu a troços!

Tu lá serves el-rei, e eu um moleiro!

Ossos do ofício, que o não há sem ossos.”

 

(Campo de flores, s/d.)

Na última estrofe, o comentário da besta que ia para o moinho corresponde à moral da fábula e equivale, no contexto, ao provérbio:

a

Quem tem burro e anda a pé, ainda mais burro é.

b

Quando você ia pro moinho, já eu voltava com o fubá.

c

Quem foi mordido de cobra, tem medo até de minhoca.

d

Quem acha besta não compra cavalo.

e

Quanto maior é a ventura, tanto menos é segura.

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Resposta
E

Resolução

A questão pede para identificar o provérbio que corresponde à moral da fábula "Ossos do ofício", expressa na última estrofe pelo comentário da besta que ia para o moinho.

1. Leitura e Interpretação da Fábula:

  • O poema narra o encontro de duas bestas (animais de carga, provavelmente jumentos ou mulas). Uma, chamada "besta fiscal" ou "besta real", carrega tesouros (cobre, prata, ouro) para a capital e se mostra arrogante. A outra carrega cevada para um moinho e é mais humilde.
  • A besta do tesouro, por causa de sua carga valiosa e sua atitude ostensiva ("Coleando arrogante", "Repicando a choquilha"), atrai a atenção de ladrões, que a atacam, roubam e agridem.
  • A besta do tesouro, ferida e roubada, lamenta seu destino e questiona por que a outra besta, que vinha atrás, não foi atacada.
  • A besta da cevada responde, contrastando as duas situações: a besta do tesouro tem um "belo emprego" servindo ao rei, mas sofre as consequências ("sustentas-te a fava, e eu a troços!"), enquanto ela, servindo a um simples moleiro, segue em paz ("cá vou no meu sossego"). A conclusão é "Ossos do ofício, que o não há sem ossos", indicando que toda profissão ou posição tem suas dificuldades e riscos inerentes.

2. Identificação da Moral:

A moral da fábula, explicitada na resposta da besta da cevada, é que posições de maior destaque, riqueza ou aparente vantagem (como transportar tesouros para o rei) trazem consigo maiores perigos e responsabilidades ("ossos"). A humildade e a discrição da besta da cevada a protegeram. Em outras palavras, a grande "ventura" (sorte, posição vantajosa) da besta fiscal era, na verdade, muito menos segura.

3. Análise dos Provérbios (Alternativas):

  • A) "Quem tem burro e anda a pé, ainda mais burro é." - Refere-se a não usar os recursos que se tem. Não se aplica à moral da fábula.
  • B) "Quando você ia pro moinho, já eu voltava com o fubá." - Indica ser mais experiente ou rápido. Não se aplica à moral da fábula.
  • C) "Quem foi mordido de cobra, tem medo até de minhoca." - Fala sobre trauma e medo exagerado após uma experiência ruim. Não é a moral principal aqui, embora a besta fiscal possa ter ficado traumatizada.
  • D) "Quem acha besta não compra cavalo." - Sugere contentar-se com algo inferior ou aproveitar uma oportunidade. Não se encaixa na moral da história.
  • E) "Quanto maior é a ventura, tanto menos é segura." - Este provérbio capta perfeitamente a moral. A "ventura" da besta fiscal (carregar tesouros, servir ao rei) era grande, mas justamente por isso, sua situação era insegura, levando ao ataque dos ladrões. A situação mais humilde da outra besta era mais segura.

Conclusão: O provérbio que melhor traduz a moral da fábula, expressa na fala final da besta da cevada, é "Quanto maior é a ventura, tanto menos é segura."

Dicas

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Analise o contraste entre a situação da besta que carrega tesouros e a da besta que carrega cevada.
Reflita sobre o significado da expressão popular "Ossos do ofício" no contexto da fala final.
Pense sobre a relação entre ter algo valioso (ou uma posição importante) e os perigos que isso pode atrair.

Erros Comuns

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Interpretar a moral da fábula de forma superficial, focando apenas na arrogância da primeira besta ou no ataque dos ladrões, sem perceber a comparação central entre risco e segurança associados às diferentes posições.
Não compreender o significado da expressão "Ossos do ofício" (as dificuldades e desvantagens inerentes a uma atividade).
Interpretar erroneamente o significado dos provérbios apresentados nas alternativas.
Confundir a causa (posição de destaque e carga valiosa) com a consequência (ataque e sofrimento) sem extrair a lição geral sobre risco e segurança.
Revisão

Para resolver esta questão, é importante entender:

  • Fábula: Uma narrativa curta, frequentemente com animais personificados (que agem como humanos), que visa transmitir uma lição de moral. A moral pode estar explícita no final ou implícita na história.
  • Interpretação de Texto Literário: Habilidade de compreender o enredo, os personagens, os diálogos e a mensagem central de um texto em verso, como o poema apresentado.
  • Personificação: Figura de linguagem que atribui características humanas a seres inanimados ou irracionais (neste caso, as bestas que falam e refletem sobre suas condições).
  • Provérbios: Ditados populares que expressam um conhecimento comum, um conselho ou uma moralidade de forma concisa. É preciso compreender o significado de cada provérbio para compará-lo com a moral da fábula.
  • Moral da História: O ensinamento principal que a fábula busca transmitir sobre comportamento, ética ou a natureza da vida. No caso, a relação entre risco, recompensa e posição social/profissional.
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