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Os trabalhos de Bispo do Rosário diversificam-se entre justaposições de objetos e bordados. Nos primeiros, utiliza geralmente utensílios do cotidiano da Colônia, como canecas de alumínio, botões, colheres, madeira de caixas de fruta, garrafas de plástico, calçados; e materiais comprados por ele ou pessoas amigas. Para os bordados usa os tecidos disponíveis, como lençóis ou roupas, e consegue os fios desfiando o uniforme azul de interno. Prepara, com seus trabalhos, uma espécie de inventário do mundo para o dia do Juízo Final. Nesse dia se apresentaria a Deus, com um manto especial, como representante dos homens e das coisas existentes. O manto bordado traz o nome das pessoas conhecidas, para não se esquecer de interceder junto a Deus por elas. Bispo faz também estandartes, fardões, faixas de miss, fichários, entre outros, nos quais borda desenhos, nomes de pessoas e lugares, frases com respeito a notícias de jornal ou episódios bíblicos, reunindo-os em uma espécie de cartografia. A criação das peças, para ele, é uma tarefa imposta por vozes que dizia ouvir.
Disponível em: . Acesso em: 1 nov. 2016 (adaptado).
Artur Bispo do Rosário (1909-1989), artista diagnosticado com esquizofrenia-paranoide, construiu uma obra extensa, utilizando materiais dos mais prosaicos e variados, dentro da instituição psiquiátrica em que viveu por décadas. A partir do texto de referência, é correto afirmar que o trabalho desse artista
dificilmente pode ser elencado no rol de práticas artísticas válidas, uma vez que faz uso de materiais precários e prosaicos.
impõe uma revisão dos preceitos com que geralmente pensamos e apreciamos a arte, fazendo mesmo questionar os limites de sua definição.
demonstra que, para realizar obra inovadora na contemporaneidade, é preciso o artista provocar atividades e estados mentais delirantes.
exemplifica de forma expressiva a continuidade entre a arte contemporânea e o consumismo, dado que se utiliza de objetos como garrafas usadas.
não pode ser considerado artístico, embora apresente elementos tradicionais das práticas artísticas, porque é fruto de uma mente em sofrimento psíquico.