Os Sapos
Manuel Bandeira
Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.
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O sapo-tanoeiro*,
Parnasiano aguado,
Diz: — “Meu cancioneiro
É bem martelado.
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Brada em um assomo
O sapo-tanoeiro:
— “A grande arte é como
Lavor de joalheiro.
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Longe dessa grita,
Lá onde mais densa
A noite infinita
Verte a sombra imensa;
Lá, fugido ao mundo,
Sem glória, sem fé,
No perau profundo
E solitário, é
Que soluças tu,
Transido de frio,
Sapo-cururu**
Da beira do rio...
*sapo-tanoeiro: também conhecido como tanoeiro, é o mesmo sapo-martelo ou sapo-ferreiro, cujo canto grave e forte originou os nomes populares.
**sapo-cururu: anfíbios de pele áspera e seca, com muitas verrugas e grandes glândulas de veneno situadas atrás dos olhos, introduzidos em alguns países para o controle de pragas.
Profissão de fé
Olavo Bilac
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Invejo o ourives* quando escrevo:
Imito o amor
Com que ele, em ouro, o alto relevo
Faz de uma flor.
Imito-o. E, pois, nem de Carrara**
A pedra firo:
O alvo cristal, a pedra rara,
O ônix prefiro.
Por isso, corre, por servir-me,
Sobre o papel
A pena, como em prata firme
Corre o cinzel.***
Corre; desenha, enfeita a imagem,
Aideia veste:
Cinge-lhe ao corpo a ampla roupagem
Azul-celeste.
Torce, aprimora, alteia, lima
A frase; e, enfim,
No verso de ouro engasta a rima,
Como um rubim.
Quero que a estrofe cristalina,
Dobrada ao jeito
Do ourives, saia da oficina
Sem um defeito:
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*ourives: artífice em metais preciosos, como ouro, prata etc.
**Carrara: em uma relação metonímica, a região da Itália de Carrara, na Toscana, que produz mármore, está sendo tomada pela própria pedra.
***cinzel: instrumento com lâmina de metal usado para entalhar, esculpir, cortar ou gravar materiais duros.
I-O discurso do sapo-tanoeiro, revelado no poema de Manuel Bandeira, pode ser aproximado do procedimento estético parnasiano, que exalta e valoriza o seu fazer, preocupando-se, principalmente, com aspectos relativos à forma.
II- O sapo-cururu, à maneira do espírito modernista de Manuel Bandeira, expõe a subjetividade do poeta, que confessa aspectos pessoais com espontâneo despojamento.
III- A oposição entre claro e escuro, no poema “Os sapos”, reforça a oposição entre parnasianos e modernistas: os primeiros objetivando a perfeição ideal e o deslumbramento, e os segundos, a simplicidade e o isolamento.
Assinale a alternativa correta.
Somente as afirmativas I e II estão corretas.
Somente as afirmativas I e III estão corretas.
Somente as afirmativas II e III estão corretas.
Nenhuma afirmativa está correta.
Todas as afirmativas estão corretas.