ENEM 2013
Os produtos e seu consumo constituem a meta declarada do empreendimento tecnológico. Essa meta foi proposta pela primeira vez no início da Modernidade, como expectativa de que o homem poderia dominar a natureza. No entanto, essa expectativa, convertida em programa anunciado por pensadores como Descartes e Bacon e impulsionado pelo Iluminismo, não surgiu “de um prazer de poder”, “de um mero imperialismo humano”, mas da aspiração de libertar o homem e de enriquecer sua vida, física e culturalmente.
CUPANI, A. A tecnologia como problema filosófico: três enfoques. Scientiae Studia, São Paulo, v. 2, n. 4, 2004 (adaptado).
Autores da filosofia moderna, notadamente Descartes e Bacon, e o projeto iluminista concebem a ciência como uma forma de saber que almeja libertar o homem das intempéries da natureza. Nesse contexto, a investigação científica consiste em
expor a essência da verdade e resolver definitivamente as disputas teóricas ainda existentes.
oferecer a última palavra acerca das coisas que existem e ocupar o lugar que outrora foi da filosofia.
ser a expressão da razão e servir de modelo para outras áreas do saber que almejam o progresso.
explicitar as leis gerais que permitem interpretar a natureza e eliminar os discursos éticos e religiosos.
explicar a dinâmica presente entre os fenômenos naturais e impor limites aos debates acadêmicos.
Resolução
A questão aborda a concepção de ciência na Modernidade, especialmente sob a ótica de filósofos como Descartes e Bacon e do projeto Iluminista, conforme apresentado no texto de apoio.
1. Leitura e Interpretação do Texto Base:
O texto afirma que o objetivo da tecnologia (e, por extensão, da ciência que a fundamenta) é o consumo e o domínio sobre a natureza. Essa ideia surge na Modernidade com pensadores como Descartes e Bacon e é impulsionada pelo Iluminismo. Crucialmente, o texto ressalta que a motivação não era apenas o poder, mas "a aspiração de libertar o homem e de enriquecer sua vida, física e culturalmente".
2. Análise do Enunciado:
O enunciado reforça a ideia do texto, conectando Descartes, Bacon e o Iluminismo à visão da ciência como forma de saber que busca libertar o homem das "intempéries da natureza". A pergunta central é: qual o papel da investigação científica nesse contexto?
3. Avaliação das Alternativas:
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Alternativa A (Incorreta): Embora a ciência busque a verdade, a ideia de "expor a essência" remete a uma metafísica que a ciência moderna, focada em leis e explicações causais, tende a deixar de lado. Além disso, a pretensão de "resolver definitivamente as disputas teóricas" ignora a natureza autocorretiva e evolutiva da ciência.
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Alternativa B (Incorreta): A ciência moderna busca explicações robustas, mas a ideia de "oferecer a última palavra" é contrária ao progresso científico, que revisa e supera teorias. Embora a ciência tenha ganhado proeminência, a filosofia continuou (e continua) a ter seu papel, muitas vezes refletindo sobre a própria ciência.
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Alternativa C (Correta): Esta alternativa alinha-se perfeitamente ao contexto iluminista. O Iluminismo exaltava a Razão como guia para o conhecimento e o progresso. A ciência, com seu método e resultados, tornou-se a expressão máxima dessa racionalidade. Seu sucesso em explicar e controlar fenômenos naturais fez dela um modelo para outras áreas do conhecimento que também buscavam o avanço e a melhoria da condição humana, como mencionado no texto ("enriquecer sua vida, física e culturalmente").
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Alternativa D (Incorreta): A ciência busca, sim, leis gerais para interpretar a natureza (método indutivo de Bacon, leis físicas de Newton). No entanto, afirmar que seu objetivo é "eliminar os discursos éticos e religiosos" é uma simplificação excessiva e, em muitos casos, incorreta. Houve conflitos e tensões, mas a ciência não tinha como propósito intrínseco a eliminação completa dessas outras formas de discurso, embora tenha desafiado muitas de suas explicações sobre o mundo natural.
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Alternativa E (Incorreta): Explicar a dinâmica dos fenômenos naturais é um objetivo central da ciência. Contudo, a ideia de "impor limites aos debates acadêmicos" é problemática. A ciência promove o debate baseado em evidências e razão, mas não busca cercear a discussão acadêmica de forma arbitrária; pelo contrário, ela floresce no debate e na crítica.
4. Conclusão:
A alternativa C descreve com maior precisão o papel da ciência no projeto moderno e iluminista: ser a encarnação da razão humana aplicada ao conhecimento do mundo, servindo como paradigma para o progresso em diversas esferas da vida, visando a libertação e o enriquecimento da existência humana, como aponta o texto.
Dicas
Erros Comuns
- Filosofia Moderna: Período da história da filosofia (aproximadamente séculos XVII e XVIII) marcado pela ênfase na razão e na experiência como fontes de conhecimento. Inclui o Racionalismo (Descartes) e o Empirismo (Bacon, Locke, Hume).
- René Descartes (1596-1650): Filósofo racionalista que enfatizou a dúvida metódica e a razão como fundamento do conhecimento ("Penso, logo existo"). Via a matemática como modelo para a ciência.
- Francis Bacon (1561-1626): Filósofo empirista que defendeu o método indutivo e experimental como caminho para o conhecimento científico, visando o domínio da natureza para benefício humano ("Saber é poder").
- Iluminismo: Movimento intelectual do século XVIII que enfatizava a razão, a ciência, o progresso e a liberdade individual como meios para superar a tradição, a superstição e o autoritarismo.
- Ciência e Progresso: Na Modernidade e no Iluminismo, a ciência passou a ser vista como o principal motor do progresso humano, capaz de desvendar os segredos da natureza e melhorar as condições de vida.
- Razão: Faculdade humana de pensar logicamente, julgar e compreender, considerada pelo Iluminismo como a principal ferramenta para adquirir conhecimento e guiar a ação humana.
Selecionar argumentos favoráveis ou contrários às modificações impostas pelas novas tecnologias à vida social e ao mundo do trabalho.
