ENEM 2017 libras
Os cartógrafos portugueses teriam falseado as representações do Brasil nas cartas geográficas, fazendo concordar o meridiano com os acidentes geográficos de forma a ressaltar uma suposta fronteira natural dos domínios lusos. O delineamento de uma grande lagoa que conectava a bacia platina com a amazônica já era visível nas primeiras descrições geográficas e mapas produzidos por Gaspar Viegas, no Atlas de Lopo Homem (1519), nas cartas de Diogo Ribeiro (1525-27), no planisfério de André Homen (1559), nos mapas de Bartolomeu Velho (15061).
KANTOR, Í. Usos diplomáticos da ilha-Brasil: polêmicas cartográficas e historiográficas. Varia Historia, n. 37, 2007 (adaptado).
De acordo com a argumentação exposta no texto, um dos objetivos das representações cartográficas mencionadas era
garantir o domínio da Metrópole sobre o território cobiçado.
demarcar os limites precisos do Tratado de Tordesilhas.
afastar as populações nativas do espaço demarcado.
respeitar a conquista espanhola sobre o Império Inca.
demonstrar a viabilidade comercial do empreendimento colonial.
Resolução
A questão aborda o uso da cartografia como ferramenta política por Portugal durante o período colonial. O texto afirma que os cartógrafos portugueses teriam intencionalmente "falseado as representações do Brasil nas cartas geográficas". O objetivo dessa manipulação era claro: "fazer concordar o meridiano com os acidentes geográficos de forma a ressaltar uma suposta fronteira natural dos domínios lusos".
Vamos analisar essa afirmação:
- Falseamento das representações: Os mapas não eram representações fiéis da realidade geográfica como entendida na época, mas sim distorções intencionais.
- Método: Alinhar o meridiano (uma linha imaginária de longitude, crucial na definição do Tratado de Tordesilhas) com acidentes geográficos (como a grande lagoa mencionada, que conectaria as bacias Platina e Amazônica).
- Objetivo: Criar a impressão de uma "fronteira natural" para os "domínios lusos" (territórios pertencentes a Portugal). Ao associar a linha do meridiano a uma característica geográfica marcante e extensa, buscava-se naturalizar e, portanto, legitimar a posse portuguesa sobre uma vasta área, possivelmente maior do que a estipulada originalmente ou de forma mais defensável visualmente e politicamente.
O texto, portanto, argumenta que os mapas eram produzidos não apenas para descrever o território, mas para afirmar a posse e o controle português sobre ele. Essa afirmação de posse visava consolidar o poder da Metrópole (Portugal) sobre a colônia (Brasil), um território valioso e "cobiçado" por outras potências europeias, como a Espanha.
Dessa forma, a manipulação cartográfica servia para "garantir o domínio da Metrópole sobre o território cobiçado", reforçando as reivindicações territoriais portuguesas através de uma suposta base geográfica natural.
Portanto, a alternativa correta é a A.
Dicas
Erros Comuns
Revisão de Conceitos
- Cartografia Histórica: Estudo dos mapas antigos, não apenas como representações geográficas, mas também como documentos históricos que refletem conhecimentos, visões de mundo e interesses políticos e econômicos de sua época.
- Tratado de Tordesilhas (1494): Acordo entre Portugal e Espanha que dividia as terras "descobertas e por descobrir" por um meridiano localizado a 370 léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde. As terras a leste pertenceriam a Portugal, e as terras a oeste, à Espanha. A localização exata do meridiano em terra era fonte de disputas.
- Domínios Lusos: Territórios pertencentes à Coroa Portuguesa (Lusa = Portuguesa).
- Metrópole e Colônia: No contexto da colonização, a Metrópole é o país colonizador (Portugal) e a Colônia é o território dominado e explorado (Brasil). A Metrópole exerce controle político e econômico sobre a colônia.
- Mapas como Instrumentos de Poder: Durante a Era das Navegações e a colonização, os mapas eram ferramentas cruciais não só para a navegação, mas também para reivindicar territórios, demonstrar conhecimento e poder, e influenciar negociações diplomáticas. A representação cartográfica podia ser manipulada para servir a interesses políticos.
Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.
