Ora, suposto que já somos pó, e não pode deixar de ser, pois Deus o disse; perguntar-me-eis, e com muita razão, em que nos distinguimos logo os vivos dos mortos? Os mortos são pó, nós também somos pó: em que nos distinguimos uns dos outros? Distinguimo-nos os vivos dos mortos, assim como se distingue o pó do pó. Os vivos são pó levantado, os mortos são pó caído; os vivos são pó que anda, os mortos são pó que jaz: “Hic jacet”*.
(Pe. Antônio Vieira, Sermão da Quarta-Feira de Cinza)
“Hic jacet”: aqui jaz
Padre Vieira, maior orador sacro da língua portuguesa, produziu mais de 200 sermões. Percebem-se no texto um tom oral ou características do discurso falado devido:
ao uso intensivo da metáfora do “pó”.
à repetição enfática de palavras e ao uso da expressão "ora".
ao desenvolvimento de um raciocínio lógico-dedutivo sobre a condição humana.
ao uso de um jogo de palavras e às construções anafóricas.
ao rebuscamento da linguagem e ao uso de frase em latim.
Neste texto do Padre Antônio Vieira, a pergunta gira em torno dos recursos que conferem ao sermão um tom de fala, como se estivesse de fato sendo formulado oralmente diante de um público. Ao analisar o curto excerto, reparamos expressões como “ora” e o uso repetido de palavras – por exemplo, “pó” – que são marcas da oralidade e têm a intenção de realçar a força do argumento, facilitando a compreensão auditiva do público. Assim, a alternativa (B) é a melhor escolha porque reconhece exatamente esses recursos como elementos que aproximam o discurso do texto falado.
Para resolver esse tipo de questão, basta identificar os elementos linguísticos que normalmente indicam fala ao vivo ou retórica de púlpito: repetição de termos para ênfase, chamamentos ao ouvinte e expressões interjetivas (“ora”), elementos próprios de um sermão que foi proferido oralmente.
Dessa forma, a resposta correta é a letra (B), indicando a repetição de termos de forma enfática e o uso da expressão “ora” – aspectos típicos de um texto para ser ouvido.
Oralidade e retórica: Na análise de um texto escrito com forte tom oral, buscamos marcas como repetições, chamamentos ao ouvinte, interjeições e construções que simulam a fala.
Recursos de ênfase: São expressões que reforçam a atenção do interlocutor, como "ora" ou a repetição de ideias e palavras. São comuns nos sermões, cuja natureza é persuadir ou ensinar de maneira enfática.