Observe as seguintes passagens de O quinze:
A.
[...] o vaqueiro do Logradouro e mais alguns moradores que a seca não escorraçara esperavam a patroa. Na calçada, também a aguardava uma espreguiçadeira de lona — a cadeirinha — presa a dois compridos bambus.
[...]
D. Inácia veio sentar-se na cadeirinha, admirouse:
— Que é dos jumentos? Vocês não sabem que eu só gosto de cadeirinha levada por jumento?
O vaqueiro acudiu:
— Minha madrinha não tem os seus caboclos pra carregarem a senhora? Por que se havia de botar animal, tendo nós?
B.
Sombras vencidas pela miséria e pelo desespero que arrastavam passos inconscientes, na derradeira embriaguez da fome.
Uma forma esguia de mulher se ajoelhou no chão vermelho.
Um vulto seco se acocorou ao lado, e mergulhou a cabeça vazia entre os joelhos agudos, amparando-a com as mãos.
Só um menino, em pé, isolado, olhava pensativamente o grupo agachado de fraqueza e cansaço.
Sua voz dolente os chamou, num apelo de esperança.
E sua mão se destacou no fundo escuro da tarde apontando o casario além.
Mas a única aparência de vida, no grupo imóvel, era o choro intermitente e abafado de uma criança.
C.
— Pelas reses me dê, alto e mal, quarenta mil-réis por cabeça... É mesmo que lhe dar dado...
—Quarenta mil-réis é caro. O gado no Quixadá está a vinte e cinco e trinta mil-réis.
[...]
[Chico Bento] Pensava na troca. Umas reses tão famosas! Por um babau velho e cinquenta mil-réis de volta! O que é a gente estar na desgraça...
[...]
— Mas criatura de Deus, o que é você vai fazer com mais gado? Acha pouco o que já está está no trato?
[...]
— Ora, mamãe, o pobre morrendo de precisão! Além disso, é gado de raça, filho do Hereford velho das Aroeiras... Garanto que escapa tudo...
O major, mexendo o café, aprovou:
— Gadão bom... famoso... Conheço muito. Fez bem, meu filho. Escapa!
Assinale a alternativa INCORRETA:
O fragmento A evidencia a subalternidade dos empregados da fazenda, explorados como animais para o bem-estar de mãe Nácia.
O fragmento B contrapõe a narrativa quase lírica em sua forma ao conteúdo da desumanização, apresentando as pessoas como meras “sombras”, “vultos”, “vozes”, metonímias do que se expressa em “aparência de vida”.
O lucro dos mais abastados a partir da necessidade dos mais pobres é comprovada com a atitude de Vicente ao comprar o gado de Chico Bento por bem menos do que realmente valia, no fragmento C.
Os fragmentos exemplificam a grande divisão que há no livro: os ricos e os pobres; os que perdem tudo com a seca, incluindo a dignidade, e os que lucram com a decadência econômica e a desumanização.
Percebe-se no fragmento C a tentativa de Vicente de ajudar a Chico Bento, contando com a aprovação do major e a contrariedade da mãe.