O triunfo global do capitalismo é o tema mais importante da história nas décadas que sucederam 1848. Foi o triunfo de uma sociedade que acreditou que o crescimento econômico repousava na competição da livre iniciativa privada, no sucesso de comprar tudo no mercado mais barato (inclusive trabalho) e vender mais caro. Uma economia baseada nas sólidas fundações de uma burguesia composta daqueles cuja energia, mérito e inteligência elevou-os a tal posição deveria − assim se acreditava − não somente criar um mundo de plena distribuição material, mas também de crescente felicidade, de avanço das ciências e das artes, numa palavra, um mundo de contínuo e acelerado progresso material e moral.
(Eric J. Hobsbawm. A era do capital. Trad. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977. p. 21)
Em S. Bernardo, romance de Graciliano Ramos, o crescimento econômico do protagonista-narrador Paulo Honório deu-se não exatamente pela competição da livre iniciativa privada, mas
pela ambição feroz, associada à violência desmedida e criminosa do fazendeiro.
pela coincidência de a compra das terras ter-se dado em meio ao surto de imigração de trabalhadores.
pelo talento do pessoal técnico especializado de quem o fazendeiro soube se cercar.
pelo súbito e extraordinário aumento da cotação do café no mercado internacional.
pelo importante apoio político que o fazendeiro conseguiu obter dos coronéis da região.