O tópico clássico do locus amoenus está bem exemplificado nos seguintes versos do poeta Manuel Maria Barbosa du Bocage:
O ledo passarinho, que gorjeia D’alma exprimindo a cândida ternura, O rio transparente, que murmura, E por entre pedrinhas serpenteia:
Já sobre o coche de ébano estrelado Deu meio giro a noite escura e feia; Que profundo silêncio me rodeia Neste deserto bosque, à luz vedado!
Ante a doce visão com que me enlaças, Já murcho, estéril já, meu ser floresce: Mas súbito fantasma eis desvanece Chusma de encantos, que em teu sonho abraças:
Já o Inverno, espremendo as cãs nevosas, Geme, de horrendas nuvens carregado; Luz o aéreo fuzil, e o mar inchado Investe ao Polo em serras escumosas;
Quando por entre os véus da noite fria A máquina celeste observo acesa, Da angústia, de terror a imagens presa Começa a devorar-me a fantasia.