O texto e as imagens a seguir nos reportam ao racismo que estrutura a sociedade brasileira.
“Desde seu lançamento em 1895, o quadro “A Redenção de Cam”, do artista espanhol Modesto Brocos, tem provocado a crítica de arte a um debate que não necessariamente se fia à questão formal, mas antes se volta ao assunto que marcou a concepção da tela : a ideia de embranquecimento racial. A imagem é um retrato de família marcado pelas distintas gradações de cor na pele das personagens – do marrom escuro (“negro”) da avó, ao “branco” do neto e de seu pai, passando pela mãe, morena, cuja tez adquire na tela um tom dourado. Em consonância, o grande interesse despertado pela pintura, que recebeu a medalha de ouro naquela Exposição Geral de Belas Artes, parece atado ao tema das uniões interraciais no Brasil e, em especial, à sua transformação em emblema dos debates sobre o futuro de um país marcado pela forte presença de uma população que não se define nem como negra, nem como branca, e pelos impasses que a chamada mestiçagem trazia para uma nação que se pretendia, no futuro, branca, num momento de auge do pensamento racialista na esfera pública.” (p. 33).
LOTIERZO, Tatiana H. P.; SCHWARCZ, Lilia K. M. Raça, gênero e projeto branqueador : “a redenção de Cam”, de modesto brocos. Disponível em: https://journals.openedition.org/artelogie/5242. Acesso em: 21 nov. 22.
À esquerda: BROCOS, Modesto. “A Redenção de Cam”, 1895, óleo s/ tela. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra3281/a-redencao-de-cam. Acesso em: 22 nov. 22.
À direita: SGUILLA, Mariana. “A Redenção de Cam”, 2022, aquarela. In: Editorial SESC São Paulo. Disponível em: https://www.sescsp.org.br/descolonizando-o-pensamento-releitura-dearte/. Acesso em: 22 nov. 22.
Considerando as três produções apresentadas, é correto afirmar:
Nas duas obras visuais, as personagens representam as três gerações presentes em um país estruturalmente miscigenado, sendo que a imagem de Sguilla reforça o Brasil contemporâneo.
“A Redenção de Cam", de Brocos, remete ao imaginário cristão, por fazer alusão a uma passagem bíblica; já a releitura em aquarela remete ao imaginário da escravização, por representar somente pessoas negras.
Em uma leitura comparativa, pode-se afirmar que a releitura da artista Mariana Sguilla propõe uma contranarrativa à narrativa imagética do embranquecimento da população, tese antirracista que perdura até hoje no Brasil.
Se “A Redenção de Cam”, de Brocos, reforça o imaginário racista a partir da tese de embranquecimento da população brasileira, a releitura da obra propõe a descolonização desse imaginário, enegrecendo todas as gerações da família.
A releitura em aquarela da “A Redenção de Cam”, reforça a ideia de que a população negra representa o passado e o atraso, pois a artista ilustra o passado, o presente e o futuro representados por uma família negra brasileira.