Texto CG3A1
O livro O bem viver: uma oportunidade para imaginar outros mundos, escrito pelo político e economista equatoriano Alberto Acosta, discute as principais características do Bem Viver, um conceito que nasce dos povos indígenas do ambiente andino e amazônico, mas que também está presente em outras culturas. Acosta aponta que é necessário recorrer às experiências desses povos que vivem em harmonia com a natureza, por serem detentores de uma longa e profunda história, desconhecida e marginalizada e por terem resistido, a partir de seu próprio modo de existir, a um colonialismo que dura mais de 500 anos. Para ele, é imprescindível que ocorram profundas mudanças no mundo, de modo a romper com as concepções do sistema de acumulação e buscar alternativas de organização social e práticas políticas. Afirma que essas perspectivas só serão alcançadas a partir de um processo de construção democrática, pautado nos Direitos Humanos e nos Direitos da Natureza.
O autor preconiza a necessidade de afastamento do modelo ocidental de desenvolvimento, dos modos de vida regidos pela acumulação do capital, da colonização, da patriarcalização, das desigualdades, do racismo, da ruptura entre natureza e ser humano, bem como, da visão antropocêntrica de mundo que considera o homem enquanto centro do universo, em oposição à natureza. Como alternativa, Acosta apresenta o bem viver enquanto filosofia de vida, um ponto de partida para a construção de sociedades democráticas. Bem viver seria um projeto de construção coletiva que valoriza e reforça a importância e a contribuição das experiências culturais distintas espalhadas pelo mundo. Nessa perspectiva, o bem viver é apontado como alternativa ao desenvolvimento, buscando desconstruir a concepção global unificadora que visa alcançar o progresso por meio do produtivismo e da visão reducionista de crescimento econômico.
Acosta aponta que o uso do bem viver de forma simplista, desprovida de significado, é uma das grandes ameaças que o conceito pode enfrentar. Em situações como a da Bolívia e a do Equador, o risco é tornar-se apenas mais um instrumento de poder a ser utilizado para influenciar e dominar as sociedades. Esse reducionismo na compreensão do bem viver e seu uso na construção de híbridos pode implicar no enfraquecimento de seu potencial enquanto proposição de novos estilos de vida. Para evitar adentrar nesses riscos, é necessário romper com as visões dogmáticas, modificar os dispositivos de análise tradicionais, recuperar e conhecer as experiências de vida das populações indígenas e cada vez mais despir-se dos conceitos estruturais dos distintos campos da vida.
O distanciamento entre ser humano e natureza tem sido um problema comum na ciência e nos próprios estilos de vida. Diante dessa relação, tornou-se cada vez mais comum a subjugação da natureza pelo ser humano. A preocupação de Acosta é a concepção da inesgotabilidade dos recursos, que possui o intuito de atender as necessidades do sistema econômico vigente.
Outro aspecto importante para a construção de uma nova civilização é a necessidade de uma outra economia. Para isso, propõe a transição de lógicas capitalistas para economias e sociedades pós-extrativistas, pautadas no desenvolvimento autocentrado. A transição deve ser pensada a partir da perspectiva do bem viver, baseada nos Direitos Humanos e nos direitos da natureza percebidos por meio da visão holística e sistêmica, com a construção de uma economia ambientalmente sustentável e solidária, baseada na autodependência comunitária e que valorize o potencial endógeno, o protagonismo social e, fundamentalmente, a democracia.
Um dos grandes diferenciais da obra é a originalidade do debate desenvolvido por alguém que possui, além de domínio teórico, experiência prática sobre a busca do bem viver. Partindo disso, Acosta convida-nos a repensar o mundo atual e para isso oferece diversos caminhos. As discussões do autor revelam que o caminho é tortuoso e que pode haver resistências. Entretanto, há no livro vasto campo de possibilidades que apontam para a superação desse complexo desafio.
Alciene Oliveira Felizardo "O bem viver para todos e todas: desenvolvimento, direito da natureza, economia e democracia". Revista Desenvolvimento Regional em Debate, vol. 10, pp. 7-11, 2020. Universidade do Contestado (com alterações).
O texto CG3A1 registra que o livro O bem viver: uma oportunidade para imaginar outros mundos, considerando a relação entre homem e natureza, sugere que
o distanciamento entre ser humano e natureza revela-se na ciência e nos hábitos dos seres humanos.
a natureza esgota-se independentemente da ação humana.
a inesgotabilidade de recursos é uma característica da concepção do bem viver.
o sistema capitalista baseia-se no respeito aos recursos naturais disponíveis no planeta.