O texto abaixo é de autoria do poeta maranhense Maranhão Sobrinho (1879-1915), composto numa São Luís do início do século XX, período de intenso debate intelectual sobre o resgate do valor literário maranhense, no cenário nacional do século XIX.
Leia, com atenção, o texto poético para responder à questão que segue.
Ânsia inocente
Ai! Como bom para nós dois seria
Se o bom Deus, dessas lendas milagrosas,
Cheio de amor, nos concedesse um dia
Dois brancos pares de asas vaporosas!
Não sei mesmo, de alegre, o que eu faria!
Deixando os lírios e deixando as rosas,
feliz contigo às nuvens subiria
para o noivado em flor das nebulosas...
na carícia de pluma de uma Trova.
Viveríamos nós, nós dois sozinhos,
Lá nas terras fiéis da Lua-Nova...
Morrer longe dos homens e das casas
Se Deus nos desse, como aos passarinhos,
Dois brancos pares de travessas asas!
Fonte: SOBRINHO, Maranhão. Papéis Velhos... Roídos pela Traça do Símbolo. São Luís: Tipografia Frias, 1908.
A voz poética, explorando possibilidades expressivas propostas no Simbolismo, revela a existência de
saudade intensa da amada, o que faz o eu-lírico buscá-la nos sonhos, evidenciada nos versos da última estrofe.
expressão de desejo de morrer, uma vez que o locutor vive distante da amada, anunciada, sobretudo, nos versos da segunda estrofe.
diálogo entre o enunciador e um interlocutor imaginário em que aquele expressa o desejo de ambos transcenderem como dois anjos, sobretudo, nos versos da primeira estrofe.
referência constante aos milagres da vida eterna, em que o enunciador busca o amor infinito, metaforizado pelas palavras do último verso da terceira estrofe.
ideia expressa de sonho materializado, em que o locutor demonstra já ter vivenciado essas viagens nebulosas, sobretudo, nos versos da terceira estrofe.