UFPR 2019

O texto a seguir é referência para a questão.

 

  Era uma vez um lobo vegano que não engolia a vovozinha, três porquinhos que se dedicavam _____ especulação imobiliária e uma estilista chamada Gretel que trabalhava de garçonete em Berlim. Não deveria nos surpreender que os contos tradicionais se adaptem aos tempos. Eles foram submetidos _____ alterações no processo de transmissão, oral ou escrita, ao longo dos séculos para adaptá-los aos gostos de cada momento. Vejamos, por exemplo, Chapeuzinho Vermelho. Em 1697 – quando a história foi colocada no papel –, Charles Perrault acrescentou _____ ela uma moral, com o objetivo de alertar as meninas quanto _____ intenções perversas dos desconhecidos.

  Pouco mais de um século depois, os irmãos Grimm abrandaram o enredo do conto e o coroaram com um final feliz. Se a Chapeuzinho Vermelho do século XVII era devorada pelo lobo, não seria de surpreender que a atual repreendesse a fera por sua atitude sexista quando a abordasse no bosque. A força do conto, no entanto, está no fato de que ele fala por meio de uma linguagem simbólica e nos convida a explorar a escuridão do mundo, a cartografia dos medos, tanto ancestrais como íntimos. Por isso ele desafia todos nós, incluindo os adultos. [...]

  A poetisa Wislawa Szymborska falou sobre um amigo escritor que propôs a algumas editoras uma peça infantil protagonizada por uma bruxa. As editoras rejeitaram a ideia. Motivo? É proibido assustar as crianças. A ganhadora do prêmio Nobel, admiradora de Andersen – cuja coragem se destacava por ter criado finais tristes –, ressalta a importância de se assustar, porque as crianças sentem uma necessidade natural de viver grandes emoções: “A figura que aparece [em seus contos] com mais frequência é a morte, um personagem implacável que penetra no âmago da felicidade e arranca o melhor, o mais amado. Andersen tratava as crianças com seriedade. Não lhes falava apenas da alegre aventura que é a vida, mas também dos infortúnios, das tristezas e de suas nem sempre merecidas calamidades”. C. S. Lewis dizia que fazer as crianças acreditar que vivem em um mundo sem violência, morte ou covardia só daria asas ao escapismo, no sentido negativo da palavra.

  Depois de passar dois anos mergulhado em relatos compilados durante dois séculos, Italo Calvino selecionou e editou os 200 melhores contos da tradição popular italiana. Após essa investigação literária, sentenciou: “Le fiabe sono vere [os contos de fadas são verdadeiros]”. O autor de O Barão nas Árvores tinha confirmado sua intuição de que os contos, em sua “infinita variedade e infinita repetição”, não só encapsulam os mitos duradouros de uma cultura, como também “contêm uma explicação geral do mundo, onde cabe todo o mal e todo o bem, e onde sempre se encontra o caminho para romper os mais terríveis feitiços”. Com sua extrema concisão, os contos de fadas nos falam do medo, da pobreza, da desigualdade, da inveja, da crueldade, da avareza... Por isso são verdadeiros. Os animais falantes e as fadas madrinhas não procuram confortar as crianças, e sim dotá-las de ferramentas para viver, em vez de incutir rígidos patrões de conduta, e estimular seu raciocínio moral. Se eliminarmos as partes escuras e incômodas, os contos de fadas deixarão de ser essas surpreendentes árvores sonoras que crescem na memória humana, como definiu o poeta Robert Bly.

(Marta Rebón. Disponível em: .)

Com base no texto, considere as seguintes afirmativas:

 

1. Na frase “Os animais falantes e as fadas madrinhas não procuram confortar as crianças, e sim dotá-las de ferramentas para viver, em vez de incutir rígidos patrões de conduta, e estimular seu raciocínio moral”, a vírgula depois de “conduta” pode ser suprimida sem alteração do sentido.

2. Na frase “A ganhadora do prêmio Nobel, admiradora de Andersen – cuja coragem se destacava por ter criado finais tristes –, ressalta a importância de se assustar...”, a vírgula depois do segundo travessão pode ser corretamente suprimida.

3. No trecho “...não só encapsulam os mitos duradouros de uma cultura, como também contêm uma explicação geral do mundo...”, a vírgula depois de “cultura” pode ser corretamente suprimida.

 

Assinale a alternativa correta.

a

Somente a afirmativa 1 é verdadeira. 

b

Somente a afirmativa 2 é verdadeira. 

c

Somente a afirmativa 3 é verdadeira. 

d

Somente as afirmativas 2 e 3 são verdadeiras. 

e

As afirmativas 1, 2 e 3 são verdadeiras.

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Resposta
C

Resolução

Solução Detalhada

Nessa questão, investiga-se a correção do uso de vírgulas em três trechos diferentes do texto. A análise gramatical deve considerar se a supressão ou manutenção de cada vírgula altera ou não o sentido e/ou a estrutura sintática adequada.

1) “Os animais falantes e as fadas madrinhas não procuram confortar as crianças, e sim dotá-las de ferramentas para viver, em vez de incutir rígidos patrões de conduta, e estimular seu raciocínio moral.”

Neste trecho, temos a parte “...em vez de incutir rígidos patrões de conduta, e estimular seu raciocínio moral.” A vírgula antes do “e” está separando orações coordenadas que completam a ideia anterior, mas a supressão dessa vírgula poderia causar certa ambiguidade estrutural. De um modo geral, em português, não se coloca vírgula antes do “e” que simplesmente une termos de mesma função sintática. Então, quando ela aparece, costuma ter alguma função especial, por exemplo destacar uma pausa enfática ou separar orações coordenadas de sujeitos diferentes. Nesse caso específico, contudo, a retirada da vírgula pode alterar ligeiramente o ritmo e a ênfase do enunciado, podendo gerar dúvida no fluxo sintático — há quem entenda que, se fosse apenas uma enumeração, não se usaria vírgula. A afirmação de que a supressão da vírgula não altera o sentido não é considerada totalmente correta, portanto a afirmativa 1 é falsa.

2) “A ganhadora do prêmio Nobel, admiradora de Andersen – cuja coragem se destacava por ter criado finais tristes –, ressalta a importância de se assustar...”

Aqui há uma intercalação marcada por travessões em “– cuja coragem se destacava por ter criado finais tristes –”. O trecho “admiradora de Andersen – cuja coragem... –,” é um aposto explicativo longo. Normalmente, após o segundo travessão, retoma-se o período principal sem necessidade de uma vírgula extra, mas, neste caso, a vírgula cria uma pausa adicional, pois já há uma vírgula após “Nobel”. Suprimir essa vírgula específica pode afetar a fluidez do aposto e o equilíbrio de pausas no texto. Pela pontuação clássica, se a frase já estava isolada por meio de vírgula antes e se introduziu o aposto após travessão, pode-se manter ou não a pausa adicional, dependendo do estilo. Entretanto, em geral, não se suprime a vírgula logo após fechar o aposto marcado pelos travessões, pois se entende que a frase retoma o ritmo do enunciado inicial. A afirmativa 2 é falsa por não se considerar aceita a remoção da vírgula como “sempre correta”.

3) “...não só encapsulam os mitos duradouros de uma cultura, como também contêm uma explicação geral do mundo...”

A estrutura “não só... como também...” normalmente não exige vírgula diante de “como”. É comum escrevermos “não só X como também Y” sem qualquer pontuação intermediária. Assim, a vírgula depois de “cultura” pode de fato ser suprimida sem problema de sentido ou de estrutura, pois não há alteração sintática significativa. Logo, a afirmativa 3 está correta.

Resposta Correta: somente a afirmativa 3 é verdadeira, o que corresponde à alternativa C.

Dicas

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Observe se a vírgula está separando orações ou termos semelhantes.
Considere se hávírgula motivada por travessões ou aposto.
Cheque quando a estrutura “não só... mas/como também...” pede vírgula.

Erros Comuns

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Assumir que a pontuação em torno de “e” e “como também” seja sempre opcional ou rígida sem avaliar a função sintática.
Desconhecer que travessões podem introduzir ou encerrar um aposto, mas ainda requerem coerência com as pausas em torno deles.
Revisão

Revisão de Conceitos

  • Uso de vírgulas: em geral, não se coloca vírgula antes de “e” quando este une termos ou orações que têm a mesma função sintática, a menos que haja ênfase ou separe orações coordenadas com sujeitos distintos.
  • Aposto explicativo por travessões: o trecho isolado por travessões é um sintagma explicativo. Normalmente, conclui-se o aposto e retoma-se o discurso principal sem se suprimir pontuações necessárias para fluidez.
  • Construção “não só... mas/como também...”: a regra é que não se costuma usar vírgula antes de “como também” quando expressa uma simples coordenação com “não só”.
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