Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Farroupilha 2019

Instrução: As questões de números 01 a 15 referem-se ao texto abaixo. Os destaques ao longo do texto estão citados nas questões.

\(\quad\quad\)

Para que tantos relógios se o tempo nos escapa?

\(\quad\quad\)

Por Eliane Brum

\(\quad\quad\)

  1. \(\quad\quad\) Na casa da infância do meu pai havia um relógio de parede. Era precioso e ainda hoje
  2. persiste, enquanto a casa vai virando natureza no meio do mato. Meu pai e sua família viviam na
  3. zona rural de Ijuí, no interior do Rio Grande do Sul, num povoado de colonização italiana
  4. chamado Picada Conceição. Lá meu avô plantava e socava erva-mate, numa lida cotidiana que
  5. envolvia os filhos homens. Minha avó e as filhas ocupavam-se com a polenta, as cucas e a sopa,
  6. as galinhas, as roupas, a casa. O relógio de parede marcava o tempo da vida, solene sobre a
  7. mesa das refeições de domingo. Cabia aos mais velhos dar corda no relógio. Mas às vezes
  8. alguém esquecia e o tempo escapava. Descobriam, então, a vida parada sobre suas cabeças.
  9. \(\quad\quad\) E agora? Como saberiam as horas? Redescobriam o que fingiam não saber. O relógio era
  10. só o reconhecimento de algo que já estava lá de tantas maneiras. Era a máquina do tempo numa
  11. vida em que tudo que era vivo ao redor seguia seus próprios desígnios. Acordavam com o galo e
  12. seguiam o dia orientados pelo sol. Esqueciam-se de dar corda porque raramente o relógio era
  13. consultado. Gostavam de ouvi-lo tique-taquear. Orgulhavam-se da engenhosidade de sua
  14. máquina. Eles que descendiam de mortos de fome do outro lado do mundo.
  15. \(\quad\quad\) Depois de algumas semanas, o silêncio do relógio tornava-se incômodo. Sentiam uma vaga
  16. inquietação imiscuindo-se pelas paredes da casa, a desconfiança de que as máquinas não
  17. deveriam parar. Tampouco se arriscavam a deixá-lo assinalar horas erradas, desarranjando o
  18. funcionamento do mundo. Meu avô então designava um dos filhos mais velhos para buscar o
  19. tempo na cidade. E, claro, fazer algumas compras. A 13 quilômetros, a cidade ficava longe para
  20. quem só contava com suas duas pernas ou as quatro do cavalo, sempre requisitado para tarefas
  21. mais sérias. E nunca se ajeitava o cavalo ou se aprumava a aranha para uma missão solitária. Só
  22. iam até lá, onde se sentiam deslocados com suas roupas de roça, para se abastecer do pouco
  23. que não trocavam por ali mesmo ou não encontravam no bem abastecido bolicho do Tio Chico. E
  24. para se apossar do tempo.
  25. \(\quad\quad\) Meu avô entregava a um dos filhos seu próprio relógio de bolso, sempre parado porque só
  26. era usado em casamentos e outras ocasiões solenes da vida pública dos homens. Preso a uma
  27. corrente encimada por uma moeda de prata com a efígie de Dom Pedro II, era das poucas
  28. riquezas materiais do meu avô, herdada dos que vieram antes. O encarregado guardava o
  29. relógio no próprio bolso, esforçando-se para não machucá-lo com os calos de uma mão feita na
  30. enxada, encilhava o cavalo e galopava até Ijuí. É preciso compreender que naquele tempo
  31. relógios eram bens valiosos. E possuir o tempo era para poucos.
  32. \(\quad\quad\) Meu pai herdou este grande respeito pelo tempo. Cada um de seus três filhos ganhou um
  33. relógio ao completar 10 anos. Por alguma razão ele e minha mãe chegaram __ conclusão de que
  34. esta era uma idade em que podíamos começar a nos responsabilizar pelo tempo, a carregá-lo no
  35. pulso. Era um presente muito esperado. Percorro agora a linha do tempo da minha trajetória
  36. errática cercada por relógios. A começar pelo do computador onde escrevo. Tudo ao meu redor
  37. marca __ passagem do tempo, do celular ao forno de microondas. As horas estão por toda parte,
  38. mesmo que eu não as queira. O tempo e as máquinas do tempo converteram-se em mercadoria
  39. ordinária. Desconfio que esta perda da solenidade dos relógios tenha relação com a perda da
  40. consciência do tempo na vida de todos nós. Tantas marcações por todos os lados e o tempo se
  41. esvai como se fosse barato como um relógio de camelô.
  42. \(\quad\quad\) Só não conseguimos escapar da morte, mas podemos morrer em vida se entregarmos
  43. nosso tempo. Talvez não exista nada mais importante do que pensar sobre o que você quer fazer
  44. com o tempo que é seu. Porque se não tem tempo para o que é importante para você, para as
  45. pessoas importantes para você, por alguma razão, em algum momento, você decidiu se
  46. desapossar de você. É preciso empreender este caminho sempre árduo de resistência e voltar a
  47. encarnar o próprio corpo.

\(\quad\quad\)

(Disponível em: http://desacontecimentos.com/?p=338 – texto adaptado especialmente para esta prova.)

O termo “precioso” (l. 01) é decorrente do processo de formação de palavras denominado derivação:

a

Imprópria.

b

Regressiva.

c

Prefixal.

d

Sufixal.

e

Parassintética.

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D
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