PUC-Campinas 2017

O tempo e suas medidas

 

    O homem vive dentro do tempo, o tempo que ele
preenche, mede, avalia, ama e teme. Para marcar a
passagem e as medidas do tempo, inventou o relógio. A
palavra vem do latim horologium, e se refere a um
[5] quadrante do céu que os antigos aprenderam a observar
para se orientarem no tempo e no espaço. Os artefatos
construídos para medir a passagem do tempo sofreram
ao longo dos séculos uma grande evolução. No início o
Sol era a referência natural para a separação entre o dia
[10] e a noite, mas depois os relógios solares foram seguidos
de outros que vieram a utilizar o escoamento de
líquidos, de areia, ou a queima de fluidos, até chegar
aos dispositivos mecânicos que originaram as pêndulas.
Com a eletrônica, surgiram os relógios de quartzo e de
[15] césio, aposentando os chamados “relógios de corda”. O
mostrador digital que está no seu pulso ou no seu
celular tem muita história: tudo teria começado com a
haste vertical ao sol, que projetava sua sombra num
plano horizontal demarcado. A ampulheta e a clepsidra
[20] são as simpáticas bisavós das atuais engenhocas
eletrônicas, e até hoje intrigam e divertem crianças de
todas as idades. 

    Mas a evolução dos maquinismos humanos que
dividem e medem as horas não suprimiu nem diminuiu a
[25] preocupação dos homens com o Tempo, essa entidade
implacável, sempre a lembrar a condição da nossa
mortalidade. Na mitologia grega, o deus Chronos era o
senhor do tempo que se podia medir, por isso chamado
“cronológico”, a fluir incessantemente. No entanto, a
[30] memória e a imaginação humanas criam tempos outros:
uma autobiografia recupera o passado, a ficção
científica pretende vislumbrar o futuro. No Brasil, muito
da força de um José Lins do Rego, de um Manuel
Bandeira ou de um Pedro Nava vem do memorialismo
[35] artisticamente trabalhado. A própria história nacional
sofre os efeitos de uma intervenção no passado:
escritores românticos, logo depois da Independência,
sentiram necessidade de emprestar ao país um passado
glorioso, e recorreram às idealizações do Indianismo.

 [40]    No cinema, uma das homenagens mais bonitas ao
tempo passado é a do filme Amarcord (“eu me recor

do”, em dialeto italiano), do cineasta Federico Fellini.
São lembranças pessoais de uma época dura, quando o
fascismo crescia e dominava a Itália. Já um tempo futuro
[45] terrivelmente sombrio é projetado no filme “Blade
Runner, o caçador de androides”, do diretor Ridley
Scott, no cenário futurista de uma metrópole caótica. 

    Se o relógio da História marca tempos sinistros, o
tempo construído pela arte abre-se para a poesia: o
[50] tempo do sonho e da fantasia arrebatou multidões no

filme O mágico de Oz estrelado por Judy Garland e
eternizado pelo tema da canção Além do arco-íris.
Aliás, a arte da música é, sempre, uma habitação espe

cial do tempo: as notas combinam-se, ritmam e produ

[55] zem melodias, adensando as horas com seu envo

lvimento. 

    São diferentes as qualidades do tempo e as cir

cunstâncias de seus respectivos relógios: há o “relógio
biológico”, que regula o ritmo do nosso corpo; há o
[60] “relógio de ponto”, que controla a presença do traba

lhador numa empresa; e há a necessidade de “acertar
os relógios”, para combinar uma ação em grupo; há o
desafio de “correr contra o relógio”, obrigando-nos à
pressa; e há quem “seja como um relógio”, quando ex

[65] tremamente pontual.

    Por vezes barateamos o sentido do tempo, tor

nando-o uma espécie de vazio a preencher: é quando
fazemos algo para “passar o tempo”, e apelamos para
um jogo, uma brincadeira, um “passatempo” como as
[70] palavras cruzadas. Em compensação, nas horas de
grande expectativa, queixamo-nos de que “o tempo não
passa”. “Tempo é dinheiro” é o lema dos capitalistas e
investidores e dos operadores da Bolsa; e é uma obses

são para os atletas olímpicos em busca de recordes. 

[75]     Nos relógios primitivos, nos cronômetros sofis

ticados, nos sinos das velhas igrejas, no pulsar do
coração e da pressão das artérias, a expressão do
tempo se confunde com a evidência mesma do que é
vivo. No tic-tac da pêndula de um relógio de sala, na
[80] casa da avó, os netinhos ouvem inconscientemente o
tempo passar. O Big Ben londrino marcou horas terríveis
sob o bombardeio nazista. Na passagem de um ano
para outro, contamos os últimos dez segundos cantando
e festejando, na esperança de um novo tempo, de um
[85] ano melhor. 

(Péricles Alcântara, inédito)

O autor,

a

na oração inicial, apresenta o assunto do texto, sendo que, no segmento o tempo que ele preenche, mede, avalia, ama e teme, circunscreve o tipo de tempo sobre o qual ele vai dissertar.

b

ao mencionar a origem da palavra “relógio”, logo no primeiro parágrafo, manifesta o compromisso de apresentar seus dados fundamentado em pesquisas etimológicas, como comprova ao tratar do cinema.

c

desenvolvendo o texto por meio do paralelo entre distintas qualidades do tempo e distintos artefatos para medi-lo, realiza esse confronto respeitando a cronologia da criação dos instrumentos e sua precisa descrição.

d

ao argumentar citando campos do conhecimento humano como literatura, cinema, música, história, e, em seguida, mencionar “Tempo é dinheiro”, denota opinião negativa sobre quem tem obsessão por esse lema.

e

caracterizando o tempo como algo a ser preenchido, faz ver que ele, em sua dimensão cronológica − associado a tempos esperançosos ou terríveis −, ou em sua dimensão imaginária, está inseparavelmente ligado à vida.

Ver resposta
Ver resposta
Resposta
E
Resolução
Assine a aio para ter acesso a esta e muitas outras resoluções
Mais de 250.000 questões com resoluções e dados exclusivos disponíveis para alunos aio.
Tudo com nota TRI em tempo real
Saiba mais
Esta resolução não é pública. Assine a aio para ter acesso a essa resolução e muito mais: Tenha acesso a simulados reduzidos, mais de 200.000 questões, orientação personalizada, video aulas, correção de redações e uma equipe sempre disposta a te ajudar. Tudo isso com acompanhamento TRI em tempo real.
Dicas
expand_more
expand_less
Dicas sobre como resolver essa questão
Erros Comuns
expand_more
expand_less
Alguns erros comuns que estudantes podem cometer ao resolver esta questão
Conceitos chave
Conceitos chave sobre essa questão, que pode te ajudar a resolver questões similares
Estratégia de resolução
Uma estratégia sobre a forma apropriada de se chegar a resposta correta
Depoimentos
Por que os estudantes escolhem a aio
Tom
Formando em Medicina
A AIO foi essencial na minha preparação porque me auxiliou a pular etapas e estudar aquilo que eu realmente precisava no momento. Eu gostava muito de ter uma ideia de qual era a minha nota TRI, pois com isso eu ficava por dentro se estava evoluindo ou não
Sarah
Formanda em Medicina
Neste ano da minha aprovação, a AIO foi a forma perfeita de eu entender meus pontos fortes e fracos, melhorar minha estratégia de prova e, alcançar uma nota excepcional que me permitiu realizar meu objetivo na universidade dos meus sonhos. Só tenho a agradecer à AIO ... pois com certeza não conseguiria sozinha.
A AIO utiliza cookies para garantir uma melhor experiência. Ver política de privacidade
Aceitar