O que se espera, pelo mais certo das coisas, é que faleçam os avós antes dos netos, e que sejamos sepultados por nossos filhos. Do contrário, toda tristeza se multiplica pelo peso das nossas dores. Esse sentimento abrasava em gelo naquele exato instante, quando senti as palavras pontiagudas do médico, no momento da maior aflição: “Sinto muito, acabamos de perdê-lo.” [...]
O doente raptado dos braços dos que o amam e posto, com o bom grado das esperanças, aos cuidados de respeitáveis pessoas de branco. E daí entregue às máquinas e aparelhos, em busca dos milagres. Tudo em aparato com que se salvam vidas, na oficina humana, onde se tentam os consertos do corpo. É válido e certo, mas, e a consciência, quem a salva?
FONSECA, Aleilton. O desterro dos mortos. In: O desterro dos mortos: contos. 3. ed. Itabuna: Via Litterarum, 2012. p. 28.
A leitura do fragmento do conto intitulado “O desterro dos mortos”, de Aleilton Fonseca, sugere que o sujeito narrador problematiza
a morte dos que envelhecem sem saúde.
o mito da saúde diante da velhice e da perda de autonomia.
a falta de humanidade evidenciada por alguns procedimentos médicos.
o comportamento de profissionais de saúde que não respeitam a individualidade dos pacientes.
o distanciamento de alguns médicos diante da escolha da morte pela próprio pessoa assistida.