O PRECONCEITO LINGUÍSTICO E A ANÁLISE DO DISCURSO
A sociedade brasileira é ainda uma sociedade preconceituosa. Os mais pobres são constantemente discriminados, e esse fato se agrava quando essa parcela da população não tem acesso à educação de qualidade. Nesse sentido, o falar e escrever que fogem à norma padrão da forma culta da língua portuguesa são também alvos de críticas e pretextos para atitudes preconceituosas. O preconceito linguístico, como o próprio nome diz, é o pré-julgamento de pessoas com base na linguagem verbal. Ele parte do pressuposto de que só existe uma língua portuguesa digna deste nome, a ensinada nas escolas, explicada nas gramáticas e catalogada nos dicionários. A partir daí, aquele cujo discurso desvia dessa língua “correta” é discriminado e reprimido. O Brasil não tem uma unidade linguística, assim como não tem uma unidade sócio-econômica e cultural. O preconceito linguístico nada mais é do que um reflexo do real preconceito sofrido pelas pessoas de classes sociais mais baixas. Assim, faz-se necessário combater também essa modalidade de preconceito. Para isso, alguns pontos principais devem ser considerados, como a identificação do preconceito, a mudança de atitude e, principalmente, a definição do que é erro e de como deve ser ensinado o português nas escolas.
(Fonte: Adaptado de Sara Baptista Martins. O preconceito linguístico e a análise do discurso. Disponível em http://www.usp.br/cje/jorwiki/exibir.php?id_texto=69, acesso em 10/07/2014, adaptado).
Observe a seguinte sentença retirada do TEXTO 1: “aquele cujo discurso desvia dessa língua ‘correta’ é discriminado e reprimido.” Em qual das alternativas há uma palavra que NÃO faz parte da família da palavra “discriminado”?
Discriminação.
Discriminante.
Descriminatório.
Discriminável.
Nesta questão, devemos identificar qual das palavras apresentadas não está relacionada ao radical de “discriminado”. A base de “discriminado” vem do verbo discriminar, que traz o sentido de separar ou distinguir algo ou alguém de forma preconceituosa. Palavras como discriminação, discriminante, discriminável e discriminador compartilham essa mesma noção de separar e distinguir, embutindo o prefixo “dis-” (de “dividir” ou “separar”) e remetendo ao preconceito ou à distinção.
Entretanto, descriminatório, escrito com “des-” em vez de “dis-”, normalmente estaria associado a “descriminar”, verbo usado em contextos como “descriminalizar”, com o sentido de “tirar o caráter de crime”. Assim, apesar de muito semelhante, descriminatório se forma a partir da ideia de “descrime” (abolir crime), não partilhando, portanto, a mesma raiz e sentido de “discriminado”. É justamente a única palavra que não pertence a essa família linguística.
Estudo dos radicais e famílias de palavras: Cada família de palavras possui um elemento comum (raiz) que lhes dá sentido semelhante. A palavra discriminado está ligada ao verbo discriminar, cujo sentido maior é separar ou distinguir baseando-se em critérios muitas vezes preconceituosos.
Diferença entre “dis-” e “des-”: Embora ambas sejam formas de prefixos em português, “dis-” em discriminar denota distinção/separação, enquanto “des-” indica um sentido de anulação, privação ou reversão (por exemplo, descriminalizar = deixar de ser crime).