O poeta modernista Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) aborda, entre outros temas, a experiência existencial do homem da grande cidade, como se verifica em:
“Quem me fez assim foi minha gente e minha terra / e eu gosto bem de ter nascido com essa tara. / Para mim, de todas as burrices a maior é suspirar pela Europa. / A Europa é uma cidade muito velha onde só fazem caso de dinheiro / e tem umas atrizes de pernas adjetivas que passam a perna na gente.” (“Explicação”)
“Nesta cidade do Rio, / de dois milhões de habitantes, / estou sozinho no quarto, / estou sozinho na América. // Estarei mesmo sozinho? / Ainda há pouco um ruído / anunciou vida a meu lado.” (“A bruxa”)
“Trabalhas sem alegria para um mundo caduco, / onde as formas e as ações não / encerram nenhum exemplo. / Praticas laboriosamente os gestos universais, / sentes calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual.” (“Elegia 1938”)
“No deserto de Itabira / a sombra de meu pai / tomou-me pela mão. / Tanto tempo perdido. / Porém nada dizia. / Não era dia nem noite. / Suspiro? Voo de pássaro? / Porém nada dizia. / Longamente caminhamos.” (“Viagem na família”)
“Em vão me tento explicar, os muros são surdos. / Sob a pele das palavras há cifras e códigos. / O sol consola os doentes e não os renova. / As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.” (“A flor e a náusea”)