O PENSADOR DE RODIN
Apoiado na mão rugosa o queixo fino,
O Pensador reflete que é carne sem defesa:
Carne da cova, nua em face do destino,
Carne que odeia a morte e tremeu de beleza.
E tremeu de amor, toda a primavera ardente,
E hoje, no outono, afoga-se em verdade e tristeza.
O “havermos de morrer” passa-lhe pela mente
Quando no bronze cai noturna escureza.
E na angústia seus músculos se fendem sofredores.
Sua carne sulcada enche-se de terrores,
Fende-se, como a folha de outono, ao Senhor forte
Que o reclama nos bronzes. Não há árvore torcida
Pelo sol na planície, nem leão de anca ferida,
Crispados como este homem que medita na morte.
BANDEIRA, Manuel. O pensador de Rodin. In: Estrela da vida inteira. 20. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993. p. 408.
No poema, Manuel Bandeira faz referência à escultura “O pensador”, realizada por Auguste Rodin, em 1889. Em relação à referida escultura, o poeta sugere uma interpretação sob o viés do contraponto entre
a idealização da existência e o racionalismo da morte.
a subjetividade da escultura e a objetividade da vida.
o racionalismo do pensar e a angústia da reflexão.
o romantismo do ser humano e a exaltação da natureza.