O mulato, de Aluísio Azevedo, é considerado a obra inicial do Naturalismo brasileiro. O fragmento a seguir é referência para responder às questões de 49 a 51.
[...]
O padre Diogo, pois era dele a outra voz, não tivera tempo de fugir e caíra, trêmulo, aos pés de José. Quando este largou das mãos a traidora, para se apossar do outro, reparou que a tinha estrangulado. Ficou perplexo e tolhido de assombro.
Houve então um silêncio ansioso. Ouvia-se o resfolegar dos dois homens. A situação dificultava-se; mas o vigário, recuperando o sangue-frio, ergueu-se, concertou as roupas e, apontando para o corpo da amante, disse com firmeza:
— Matou-a! Você é um criminoso!
— Cachorro! E tu?! Tu serás porventura menos criminoso do que eu?
— Perante as leis, decerto!, porque você nunca poderá provar a minha suposta culpa e, se tentasse fazê-lo, a vergonha do fato recairia toda sobre a sua própria cabeça.
[...]
O assassino ficou aterrado e abaixou a cabeça.
— Vamos lá!... disse o padre afinal, sorrindo e batendo no ombro do português. Tudo neste mundo se pode arranjar, com a divina ajuda de Deus... só para a morte não há remédio! Se quiser, a defunta será sepultada com todas as formalidades civis e religiosas... [...]
AZEVEDO, A. O mulato. São Paulo: Saraiva, 2010.
Tendo em vista os diversos procedimentos linguísticos usados para mostrar diferentes vozes ou falas demarcadas ou não no texto, o narrador, para consubstanciar uma percepção do estilo naturalista, vale-se de uma das vozes para revelar a
segregação racial nas instituições.
confissão de vítimas institucionais do acaso.
hipocrisia do virtuosismo de uma instituição.
marginalização do indivíduo nas sociedades provincianas.
submissão dos instintos à supremacia da razão nos conflitos humanos.