O morcego
Meia-noite. Ao meu quarto me recolho.
Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede:
Na bruta ardência orgânica da sede,
Morde-me a goela ígneo e escaldante molho.
“Vou mandar levantar outra parede...”
— Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho
E olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um olho,
Circularmente sobre a minha rede!
Pego de um pau. Esforços faço. Chego
A tocá-lo. Minh’alma se concentra.
Que ventre produziu tão feio parto?!
A Consciência Humana é este morcego!
Por mais que a gente faça, à noite, ele entra
Imperceptivelmente em nosso quarto!
ANJOS, A. Eu e Outras Poesias. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1998
Didaticamente, Augusto dos Anjos está inserido dentro do pré-modernismo, em virtude de sua poesia realista e instigadora, entretanto o seu fazer literário permite incluí-lo em outros estilos literários por dialogar com diferentes autores e época.
Considerando-se os estilos literários a seguir e sua principal característica, a única de que ele se afasta é o