O mentiroso e o ladrão
Os antigos enxergavam no mentiroso o mais vil dos tarados morais. Depois de enumerar tôdas as misérias de um perdido, concluíam, quando cabia: ''E, até, mente''. Entre dois ladrões crucificaram os judeus a Jesus; porque não ousaram excruciá-lo entre dois burlões. O ladrão prostitui, com o roubo, as suas mãos. O mentiroso, com a mentira, a própria boca, a palavra e a consciência. O ladrão ofende o próximo nos bens da fortuna. O mentiroso, não é o patrimônio, é na honra, na liberdade, na própria vida. Tanto vai do latrocínio, à calúnia. Do ladrão nos livra a tranca, o apito, a guarda. Do mentiroso nada nos livra; porque o enrêdo, a invencionice, a detração, volatilizados no ar, depois de tramados, sussurrados, cochichados ou temperados com os condimentos do jornalismo, são impalpáveis como os germes das grandes epidemias. Nem o ladrão despoja senão aos que possuem. Com os desvalidos da fortuna, que nada têm de que os roubarem, não pode nada. Mas, ao passo que os ricos e abastados se consolam, do que se lhes tira na reputação, com o que lhes sobra nos haveres, a mentira acossa os pobres na sua indigência, carregando-lhes sôbre o pêso das necessidades as amarguras da vida caluniada. Flagelo universal, ninguém se lhe evade; e os enjeitados do dinheiro são os sôbre quem ela mais a seu salvo se sacia, agravando-lhes o mal das privações com a crueldade dos aleives.
(Disponível em: http://www.casaruibarbosa.gov.br/rbonline/obrasCompletas. htm. Acesso em: 20 set. 2017).
Julgue estas considerações acerca do texto ''O mentiroso e o ladrão''.
I. A referência à crucificação de Jesus reforça a tese do autor de que ladrões e mentirosos se diferenciam moralmente.
II. Embora o autor, durante sua argumentação, insista nas diferenças entre ladrões e mentirosos, chega à conclusão de que eles se igualam nas atitudes e nos comportamentos.
III. A prática jornalística, segundo o autor, por meio de artimanhas e subterfúgios, colabora com a disseminação da mentira.
IV. Segundo o autor, embora ninguém esteja impune à mentira, o efeito dela nos pobres é mais acentuado do que nos ricos.
É CORRETO apenas o que se afirma em
I, II e III.
I, III e IV.
II e III.
III e IV.