O livro e a América
Talhado para as grandezas,
Pra crescer, criar, subir,
O Novo Mundo nos músculos
Sente a seiva do porvir.
— Estatuário de colossos —
Cansado doutros esboços
Disse um dia Jeová:
“Vai, Colombo, abre a cortina
Da minha eterna oficina...”
“Tira a América de lá”.
(...)
Por uma fatalidade
Dessas que descem de além,
O sec’lo que viu Colombo
Viu Guttenberg também.
Quando no tosco estaleiro
Da Alemanha o velho obreiro
A ave da imprensa gerou...
O Genovês salta os mares...
Busca um ninho entre os palmares
E a pátria da imprensa achou...
Por isso na impaciência
Desta sede de saber,
Como as aves do deserto
As almas buscam beber...
Oh! Bendito o que semeia
Livros... livros à mão cheia...
E manda o povo pensar!
O livro caindo n’alma
É germe — que faz a palma,
É chuva — que faz o mar.
Castro Alves. Espumas flutuantes. Cotia: Ateliê Editorial, 2005, p. 75.
Nos dois versos finais do fragmento apresentado, as metáforas construídas em orações paralelas expressam a ideia de que
as noções de leitura e germinação são contraditórias, mas, ironicamente, se aproximam.
o livro, ao mesmo tempo, traz o princípio de um pensamento e provoca outras ideias.
a leitura deve ser feita com base em regras estabelecidas pelas autoridades eclesiásticas.
os livros, se lidos sem orientação, podem resultar em esforço vão.